Clipping
Crédito de empresas médias atrai dinheiro de fundos
Fonte: Valor Econômico - 17/05/2021 às 10h05
Companhias de médio porte sempre passaram ao largo do mercado de capitais brasileiro, salvo raras exceções. Com as taxas de juros baixas e a busca por retornos mais atraentes, porém, essas empresas começam a entrar no radar dos investidores.
“A gente tem visto uma mudança paulatina no perfil dos credores, o que vai permitir às empresas tomar recursos com prazos mais adequados e em condições melhores”, afirma Mônica Hojaij Carvalho, sócia-diretora da companhia de assessoria financeira Condere.
Fundos de investimentos e family offices à procura de rentabilidade devem dividir espaço com os bancos na oferta crédito às empresas de médio porte. Espaço para isso não falta, segundo estudo elaborado pela butique com mil companhias, das quais 43% tiveram faturamento entre R$ 100 milhões e R$ 500 milhões em 2019 (foram usados dados desse ano e não de 2020, que foi bastante atípico).
A principal conclusão é a de que as empresas médias familiares são pouco endividadas, geram caixa e com bons ativos para oferecer em garantia - o que pode ajudá-las a atrair recursos com taxas e prazos melhores.
Apenas 30% do capital empregado por essas companhias é de terceiros, bem abaixo dos 42% ostentados pelas sociedades anônimas de capital aberto. O endividamento das empresas médias era equivalente a 2,3 vezes o Ebitda, uma alavancagem também baixa se comparada à de competidores maiores. A margem Ebitda, por sua vez, foi de 29% na média, contra 23% das grandes de capital aberto e 24% das grandes de capital fechado. “As companhias familiares ainda não usam muito isso a seu favor”, afirma Paulo Cury, fundador da Condere.
O levantamento também apontou que as companhias médias têm cerca de R$ 44 bilhões em ativos para oferecer como garantia real em operações de crédito. O número leva em conta o valor de ativos imobilizados e de contas a receber que excede o total da dívida bruta nos balanços. Nesse cenário, segundo Cury, haveria um potencial de crédito incremental de aproximadamente R$ 22 bilhões para o segmento. “Existe espaço para elas melhorarem sua estrutura de capital, o que pode ajudar essas empresas a abrir portas e até a se preparar para um processo de aquisição.”
Na visão do executivo, ainda falta uma barreira cultural a ser vencida. Por muito tempo, o ambiente econômico do país, com taxas de juros muito, elevadas e a concentração bancária fizeram com que boa parte das empresas tivessem muito receio de tomar crédito na praça - o que era visto quase como um sinal de fracasso. O custo alto é uma grande barreira: não raramente, uma operação de capital de giro ainda pode custar ao redor de 15% ao ano. “Muitas empresas têm ojeriza à palavra dívida”, afirma Cury.
Mas isso está mudando, o que reflete não apenas o cenário macro como também a chegada de uma nova geração ao comando das companhias. “Muitas vezes, os filhos vão estudar fora e voltam com outra cabeça”, observa Mônica. Os executivos dizem que a Condere está trabalhando em dez mandatos para estruturar operações de crédito para clientes de porte médio, que são o foco da assessoria.
Nem sempre uma operação de crédito via fundos sai mais barata para que uma operação convencional de crédito bancário - os investidores costumam cobrar spreads mais altos para financiar tíquetes menores e riscos menos conhecidos. Porém, Mônica afirma ver melhores condições de montar estruturas sob medida, que alinhem os prazos de pagamento ao fluxo de caixa dos tomadores, usando garantias reais.
Os executivos avaliam que a crise do coronavírus, apesar de todas as dificuldades que trouxe, não mudou de forma substancial a situação financeira das companhias com essa faixa de faturamento. Empresas desse porte foram menos afetadas que as micro e pequenas, e muitas se beneficiaram dos recursos baratos oferecidos por linhas emergenciais abertas na pandemia. “O aperto do ano passado serviu de escola. Muitas saíram com operações mais diversificadas e, depois de ajustes, com a estrutura mais barata”, diz Mônica.