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Copom deve elevar Selic em 0,75%; economistas veem fim de ajuste ‘parcial’
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) deve manter o indicado nas comunicações recentes e promover mais uma alta de 75 pontos-base na taxa básica de juros, a Selic, para 4,25%, disseram economistas em entrevista ao Investing.com.
Segundo eles, a principal mudança desta reunião de quarta-feira (16), quando a decisão será divulgada, deve vir no tom do comunicado, com a provável saída da menção a um “ajuste parcial” por conta do avanço da inflação no país e da melhora para as perspectivas de recuperação econômica.
Na última decisão, no início de maio, o Copom elevou a taxa Selic em 75 pontos-base para 3,5%, como esperado, e sinalizou que, se nada de extraordinário acontecesse, subiria os juros na mesma magnitude na reunião desta semana.
A estratégia, vista como normalização parcial da política monetária, tinha como objetivo sinalizar o ritmo do ciclo de alta de juros ao mercado e antecipar uma retirada gradual dos estímulos implementados ao longo de 2020 - ritmo esse que, dada a desancoragem da inflação em relação às metas do BC, pode precisar ser acelerado.
Para os economistas, o principal ponto é que as expectativas para 2022, o alvo relevante para a autoridade monetária em linha com o regime de metas de inflação, superaram a meta, exigindo um posicionamento mais contundente dos membros. Nesta segunda-feira (14), a pesquisa Focus, realizada pelo BC com representantes do mercado, elevou a projeção para o IPCA do próximo ano de 3,70% para 3,78%, a quinta alta consecutiva e acima da meta de 3,5%.
Denilson Alencastror, economista-chefe da Genial Asset, aponta que a principal diferença entre o início da normalização da política monetária no Brasil, em março deste ano, para o atual cenário é o comportamento das altas de preços, que começaram a se difundir pela cadeia de produtos.
“Muito do discurso dos últimos meses foi de um choque de oferta, mas estamos vendo que a alta de preços está disseminada, é mais generalizada”, disse.
Para ele, mesmo com a melhora do comportamento do dólar nas últimas semanas, que foi um dos principais fatores para o aumento da inflação do país ao longo do último ano, o efeito deve demorar a ser sentido na economia, com muitas empresas ainda não tendo repassado esses gastos para frente.
Pela pesquisa Focus desta semana, a moeda deve chegar a R$ 5,18 no final do ano, na primeira redução de expectativas em quatro semanas. Em meados de maio, o mercado ainda previa um câmbio a R$ 5,40 para 2021.
Já Pedro Vendramini, economista da One Investimentos, acredita que os comentários da autoridade monetária em relação à inflação devem se manter conservadores, ainda de olho no comportamento pós-pandemia.
Para ele, que também aposta em uma alta de 75 pontos-base, a comunicação dos membros do Comitê deve enfatizar o choque temporário de preços, mas com um “tom diferente” para o ajuste parcial do estímulo à economia.
“O que o mercado vai buscar agora é uma sinalização se o aumento da taxa poderá ser maior ou se a sequência de altas será mais longa que o esperado”, disse.
O economista lembra que, além da recente valorização do real, os dados acima do esperado para a atividade econômica no país também contribuem para um cenário mais otimista em relação ao prêmio de risco colocado pelos investidores para os ativos locais.
Gustavo Sung, economista da Suno Research, por sua vez, escreve em nota que um ponto de atenção em relação à inflação será o maior acionamento das termelétricas, frente à possível crise de abastecimento de energia, além de justamente a perspectiva de retomada do comércio e serviços, que pode pressionar a inflação no segundo semestre.
Ele aponta que o maior foco desta reunião serão pistas de como o BC pretende controlar a inflação, sem comprometer a retomada da economia que parece estar ganhando leves contornos de recuperação.