Clipping
Celular concentra 51% das transações
Que a pandemia de covid-19 impulsionou o uso dos canais digitais dos bancos já era visível, mas agora uma pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) joga mais luz sobre a força dessa transformação. O mobile banking, que já vinha crescendo há alguns anos, deu um salto e passou a ser o principal canal: chegou a 51% do total de transações em 2020 ante 43% em 2019.
O Brasil tem 198,2 milhões de contas ativas em mobile banking, bem mais que a população adulta, que é de cerca de 162 milhões de pessoas. O crescimento em 2020 foi de 118%. Mesmo desconsiderando o efeito do auxílio emergencial, que gerou a abertura de quase 70 milhões de contas, a expansão ainda seria robusta, de 39%.
E, se os canais digitais têm crescido, a rede de agências bancárias só encolhe. Em 2020 a queda foi de 5,4%, para 19,4 mil unidades. Nos últimos cinco anos, a retração foi de 17,1%. Já o número de postos de atendimento (PAs) subiu 5,6%, a 18,7 mil. Em cinco anos, a expansão foi de 19,1%. “A rede de agências é importante, não vai acabar.
Elas serão remodeladas. A agência é a ‘loja’ dos bancos, a vitrine no mundo físico. Elas vão ter cada vez mais um papel consultivo e para transações mais complexas”, diz Sergio Biagini, sócio-líder para a Indústria de Serviços Financeiros da Deloitte Brasil, que coordenou a pesquisa da Febraban, divulgada durante o Cian, congresso de tecnologia bancária.
Porém, enquanto no mobile apenas 15% das transações envolvem movimentação financeira, nas agências esse volume é de 62%. Transações que não envolvem dinheiro são verificação de saldo, agendamento de pagamento, consulta de limites, entre outras. Apesar do grande volume desse tipo de operação, a quantidade de transferências bancárias nos canais digitais em 2020 foi 14 vezes maior que a dos canais físicos. Das operações de contratação de crédito, 90% foram feitas no digital.
Muita gente ainda vai às agências para consultar saldos. Foram 1,190 bilhão de transações no ano passado, sendo o tipo de operação mais comum. Na sequência aparecem depósitos (388,0 milhões de transações) e pagamentos de contas (252,2 milhões).
De qualquer forma, 2020 marcou uma queda anual para a maioria das operações realizadas em agências. A maiores retrações foram em pagamentos de contas (-47%), saques (-45%), depósitos (-28%), saldos e extratos (-16%) e contratação de crédito (-15%). Enquanto isso, serviços mais complexos cresceram. Foram os casos de renegociação de dívida (+45%), câmbio (+11%), contratação de seguros (+6%) e contratação de investimentos (+4%).
No ano passado, mesmo com o pagamento do auxílio emergencial, que aumentou a quantidade de dinheiro em circulação, os saques caíram muito. Nas agências e PAs, a queda foi de 45%, para 187,5 milhões de transações. Nos caixas eletrônicos, a redução foi de 18%, para 2,123 bilhões de transações.
Enquanto isso, o “boom” das transações digitais exige mais investimentos em segurança. Os bancos investiram um total de R$ 25,7 bilhões em tecnologia em 2020, com alta anual de 8%. Isso equivale a 14% de todo o investimento brasileiro em TI, perdendo apenas para os gastos do governo, que são uma fatia de 15%. Em média, do orçamento geral de TI dos bancos, 10% é voltado para cibersegurança, que a Febraban classifica como essencial para alavancar um crescimento escalável e atender a novas regulamentações.
Rodrigo Mulinari, diretor setorial de TI da Febraban, afirma que os canais digitais são seguros e que nunca houve violação nos aplicativos dos bancos. “Os investimentos são massivos em cibersegurança. Os canais digitais são seguros. Os golpes acontecem em cima de engenharia social: o meliante entra em contato com o cliente e o convence a passar as informações, por exemplo", destaca.
E os investimentos em segurança devem crescer ainda mais este ano, com o avanço de novas tecnologias como o sistema de pagamentos instantâneos Pix, a ascensão dos criptoativos e a implementação do open banking. A pesquisa da Febraban mostra que o Pix já representava 30% das transações bancárias em março, com menos de seis meses em operação.
O diretor de organização do sistema financeiro do Banco Central, João Manoel Pinho de Mello, espera que novas funcionalidades a serem adicionadas ao Pix acelerem a adesão do varejo ao meio de pagamento instantâneo.
“Esperamos uma enorme adesão do Pix Saque e Pix Troco a partir do terceiro trimestre, quando essas novas funcionalidades devem começar.
Já o chefe-adjunto do departamento de tecnologia da informação do BC, Aristides Cavalcante, afirmou que as moedas digitais emitidas por bancos centrais (CBDC, na sigla em inglês), podem habilitar e impulsionar novas tecnologias, como “smart contracts” e internet das coisas. Ele também reforça as críticas dos reguladores globais às criptomoedas descentralizadas. “Nem sempre têm uma entidade emissora, têm pouca governança e alta volatilidade.”