Clipping
Brasil é um dos líderes em persistência inflacionária
Fonte: Valor Econômico - 05/05/2021 às 12h05
Um estudo feito por economistas do banco Credit Suisse mostra que o Brasil ocupa as primeiras posições entre os países emergentes pelo critério de persistência inflacionária e, caso se descuide com a inflação muito alta, poderá colher uma persistência ainda maior no futuro.
O termômetro usado pelo banco é o quanto choques teoricamente passageiros afetam o nível de preços da economia. O Brasil tem um índice 3, o que significa que, se uma alta de preços de combustíveis ou de outras commodities provocar um aumento de 1% na inflação, quando esse choque se dissipar o nível de preços da economia estará 3% maior.
Num grupo de países selecionados, o Brasil está na liderança, pouco acima da África do Sul. Países como Chile, Hungria e Turquia estão num segundo pelotão, com índices próximos de 2. Com uma persistência ainda mais baixa, encontram-se México, China e Índia, com o índice pouco acima de 1.
Esse índice de 3 para o Brasil reflete a média da persistência inflacionária de 2002 para cá. Ao longo do tempo, ela oscilou bastante, ora subindo, ora descendo, refletindo fatores como a credibilidade do Banco Central, a política fiscal, os choques que atingiram a economia e o nível de indexação do sistema de preços. Na gestão Alexandre Tombini no BC, foi mais alta, se aproximando de 3. Caiu para os níveis atuais na gestão Ilan Goldfajn, oscilando pouco acima de 2.
Mas o indicador pode voltar a subir em breve, dependendo do comportamento da inflação, advertem os economistas do Credit Suisse. A história mostra que a persistência inflacionária costuma acompanhar a inflação corrente. Desde fins de 2020, a inflação subiu e, embora até agora a persistência inflacionária não tenha acompanhado, as coisa podem mudar rapidamente.
O Banco Central tem evitado adotar uma postura ainda mais conservadora nos juros, a despeito da alta inflação, justamente com o argumentos de que as pressões sobre os índices de preços é temporária.
A economista-chefe do Credit Suisse, Solange Srour, uma das autoras do estudo, junto com o economista do banco Lucas Vilela, defende que a autoridade monetária reconheça que o choque de preços é duradouro. “O Banco Central deveria parar de falar que a inflação é temporária. Esse temporário começou em setembro”, afirma.
Em tese, ressalta, uma alta de preços que dura sete meses até poderia ser considerada temporária. Mas ocorreram muitos choques ao mesmo tempo, que afetam diferentes setores da economia, provocando uma alta disseminada de preços.
Por enquanto, os preços de serviços são uma exceção, devido ao fechamento da economia durante a pandemia, mas podem responder rapidamente na reabertura. A pressão nos preços decorrente da alta do dólar pode se prolongar porque, em boa medida, reflete o ambiente de incerteza fiscal. A economista diz ainda que há o risco de o ambiente inflacionário internacional se mostrar mais persistente, devido aos estímulos monetários e fiscais de economias avançadas. O banco projeta uma inflação de 5% neste ano, que está sendo reexaminada, e de 4% no ano que vem.
Os cálculos do Credit Suisse sobre a persistência inflacionária levam em conta o nível de preços, e não a taxa de inflação. É possível medir a persistência dos choques tanto na inflação como no nível de preços. Ambos andam juntos - se a persistência se mostra maior no nível de preços, é porque a persistência na taxa da inflação também ficou maior.
A taxa de inflação representa a alta de preços da economia durante um período de tempo, geralmente um mês ou um ano. O nível de preços mostra o quanto os produtos ficaram mais caros. Se a gasolina, por exemplo, sobe 5% num ano e no ano seguinte fica estável, o choque inflacionário foi passageiro. No segundo ano os economistas vão dizer que a inflação da gasolina foi zero.
Mas o nível do preço do combustível - o que realmente interessa para quem enche o tanque do automóvel - ficou 5% mais alto ao fim desse período de dois anos. “As pessoas acompanham sempre a inflação, mas o bem-estar é dado pelo poder de compra”, afirma Solange Srour.