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Banco do Brasil avança para confirmar Stieler na Previ
Fonte: Valor Econômico
O contador Daniel Stieler deve ser confirmado nesta semana como novo presidente do fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, a Previ. O Valor apurou que foi agendada para quinta-feira reunião do presidente do BB, Fausto de Andrade Ribeiro, com a diretoria da fundação, na qual também está prevista a participação de Stieler. Fontes dizem que deve ser o primeiro passo para a indicação.
A expectativa é que a gestão de Stieler na Previ seja de continuidade em relação à de José Maurício Coelho, que renunciou. O executivo tem experiência na área previdenciária e dirige, desde janeiro, o Economus, entidade fechada de previdência complementar do antigo banco Nossa Caixa, comprado em 2009 pelo BB. São menos conhecidas do mercado, porém, as capacidades de Stieler para conduzir as estratégias de investimento e desinvestimento, tema sensível para os fundos de pensão, em especial para a Previ, que tem patrimônio de R$ 252 bilhões, que o torna o maior da América Latina.
Esse patrimônio representa um quarto de toda a indústria de previdência complementar fechada, avaliada em pouco mais de R$ 1 trilhão. Com esse porte, navegando entre “tubarões” e “sardinhas” do mercado, a entidade é comparável a um transatlântico: difícil de manobrar e pouco afeita a guinadas.
O nome de Steiler foi bem-recebido pelos funcionários do Banco do Brasil e pelos participantes da Previ, apurou o Valor. Ele foi diretor de controles internos do BB, tem longa carreira no banco e conhece o funcionamento da fundação. Foi conselheiro fiscal da Previ, na condição de suplente, entre 2012 e 2016, mas teve atuação “ativa” no mandato participando de todas as discussões, dizem fontes.
Embora exista um rito legal a ser cumprido até Stieler assumir o cargo, interlocutores que conhecem a fundação afirmam que seria um processo “pro forma”. Os passos são os seguintes: o BB, como patrocinador do fundo de pensão, formaliza a indicação à Previ. O conselho deliberativo da fundação é convocado em reunião extraordinária e valida o nome. Ao mesmo tempo é preparada a documentação e, uma vez formalizada a indicação, os documentos são enviados à Superintendência de Previdência Complementar (Previc), que tem 30 dias para responder. Fontes acostumadas ao rito dizem que, normalmente, a Previc responde entre 15 e 20 dias.
Todo esse processo deve começar, oficialmente, no dia 14, data em que Coelho deixará a presidência da Previ. O executivo renunciou ao cargo antes do fim do mandato, que seria em maio de 2022. É esperado que no dia 14 o BB encaminhe a indicação para a Previ, mas quem dará posse ao novo presidente será o conselho deliberativo da fundação. “Não vai ter crise com o nome”, diz uma fonte. A tendência, portanto, é que haja um intervalo entre a saída de Coelho e a chegada de Steiler e, nesse período, quem ficaria temporariamente na presidência seria o diretor de participações, Denísio Liberato.
A troca abrupta na Previ surpreendeu o mercado e até mesmo os associados da fundação. Os rumores de que Coelho passaria o bastão antes do fim do mandato já circulavam havia algumas semanas. No dia 25 de maio, porém, houve a comunicação de que renunciaria a partir do dia 14 deste mês - portanto, faltando quase um ano para o encerramento de sua gestão. Surgiram duas versões para explicar a saída antecipada da maneira como ela se deu. A primeira é que a troca fazia parte de um processo natural comandado pelo presidente do BB, que assumiu o cargo em março, e está formando a sua própria equipe. Por essa versão, a saída de Coelho se deu de “comum acordo” entre o patrocinador (BB) e a patrocinada (Previ).
A outra versão não exclui a primeira, mas acrescenta um dado importante que embute elementos de suposta pressão política que teriam contribuído para a troca. Em 21 de maio, dias antes da renúncia de Coelho, a Previ vendeu em bolsa 3% das ações em carteira de BRF. A participação do fundo na companhia foi reduzida de 9% para 6,04%. Foram vendidos 24 milhões de ações a R$ 27,15 cada. A posição original de Previ na atual BRF remete a 1994 e a venda garantiu retorno positivo à fundação - acima do IPCA e do Ibovespa, por exemplo - se considerada a posição desde o início do investimento na ação, afirmam fontes.
A venda de BRF se deu em linha com a estratégia do fundo de pensão de reduzir a fatia em renda variável, em busca de um portfólio menos arriscado e mais líquido. Em pouco mais de dois anos, a gestão de Coelho se desfez de mais de R$ 35 bilhões em bolsa. Porém, nos bastidores, o movimento teria desagradado à família Fontana, fundadora da BRF, que, segundo especulações, tinha planos de retomar o controle da companhia. Ainda segundo essa versão, reclamação dos Fontana teria chegado ao presidente do BB por meio do senador Flávio Bolsonaro, que teria relação com integrantes da família.
Ocorre que, no movimento de venda, a Previ ajudou o empresário Marcos Molina, da Marfrig, a ampliar a fatia da sua empresa em BRF. A Marfrig não só comprou ações da BRF pertencentes à Previ como continua aumentando a fatia na concorrente. Na quinta, a empresa de proteínas alcançou 31,66% do capital da BRF. “O problema, para a suposta pressão política na saída de José Maurício [Coelho], não está na venda das ações [de BRF], mas em que comprou”, diz fonte próxima ao BB.
Não é a primeira vez que se ouve que pressões externas rondam um fundo de pensão. Porém, na Previ, há a visão de que as regras da fundação são feitas para evitar interferências. Para assumir qualquer cargo na diretoria, é preciso ser associado à entidade há pelo menos dez anos e ser funcionário da ativa do Banco do Brasil. Isso, segundo fontes, “blinda” o fundo porque os dirigentes são técnicos e cuidam do próprio dinheiro. Essa visão é ratificada por outros fundos, consultores e especialistas em previdência. Stieler chega preenchendo todos esses requisitos.