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Alta da Selic atrai R$ 50 bi para fundos de crédito em 2021 e liga alerta nos gestores
O ciclo de alta da taxa Selic em curso pelo Banco Central (BC) tem feito muito investidor voltar a se atentar para as oportunidades na classe da renda fixa, em especial para fundos de crédito privado, conhecidos por oferecerem um prêmio em relação à remuneração agora crescente do CDI.
Esses prêmios são spreads acima da taxa referencial que, segundo os gestores que atuam nesse segmento, oscilam hoje ao redor de 1,5% ao ano, quando o foco está nos títulos high grade, de menor risco e expectativa de retorno, mas que podem chegar mais perto dos 5%, no caso dos papéis high yield, de maior risco.
Com uma Selic projetada pelo mercado em trajetória ascendente, que hoje aponta para uma taxa de 6,5% até dezembro, de acordo com o mais recente relatório Focus, o retorno previsto para os fundos que compram títulos privados volta a se aproximar dos dois dígitos ao ano.
“Não me surpreenderia se os fundos de crédito high grade estiverem entregando um retorno entre 8% e 9% até o fim do ano”, diz Ulisses Nehmi, CEO da gestora de crédito Sparta.
Nesse cenário, a demanda dos investidores tem voltado com toda força, o que já tem inclusive ligado o alerta em alguns gestores quanto à capacidade de absorção da indústria, com veículos sendo fechados ou em vias de fechar.
“Existe uma diligência maior do mercado, dado o aprendizado com os episódios que ocorreram no passado”, diz Felipe Manfredini, sócio da área de distribuição de fundos da XP, em referência aos eventos de aumento abrupto da volatilidade na categoria em 2019 e 2020.
Na ocasião, o susto tomado por muitos investidores desacostumados com oscilações negativas na renda fixa levou a uma corrida por saques, especialmente no caso dos fundos de alta liquidez com títulos de crédito high grade, quando os gestores se viram forçados a vender ativos de boa qualidade a qualquer preço, em uma espiral negativa.
Segundo dados da provedora de informações financeiras Economatica, em 2021, até 15 de junho, os fundos de crédito privado tiveram captação líquida de R$ 49,4 bilhões.
O resultado contrasta, e muito, com o observado nos anos anteriores. Em 2020, ano marcado pela fuga em massa da renda fixa, os resgates superaram os aportes em cerca de R$ 15 bilhões. E, em 2019, quando a renda fixa privada viveu seu primeiro grande chacoalhão, a captação foi positiva em R$ 24,3 bilhões.
Distorções
Segundo Fausto Silva, gestor de renda fixa da XP Asset, o forte aumento de demanda dos investidores já tem começado a causar algumas distorções. Por conta da entrada massiva de recursos, prêmios para ativos de boa qualidade, que oscilavam mais próximos de 2% ao ano acima do CDI no fim de 2020, hoje estão mais perto de 1,5%.
E essas são taxas relativas a operações de financiamento de longo prazo, de sete anos ou mais, assinala o gestor. “Percebemos alguns excessos sendo cometidos”, afirma Silva.
Ele acrescenta que, embora a situação financeira das empresas que usualmente acessam o bolso dos investidores esteja em geral até mais forte do que antes da pandemia pelo efeito de consolidação de mercado, é preciso considerar também que há incertezas importantes no cenário, como a inflação no âmbito global e local, bem como as eleições no Brasil em 2022.
Nesse cenário, Silva não descarta ter de fechar “em um futuro próximo” o fundo de debêntures incentivadas da gestora, estratégia que muitas vezes entra no radar do investidor pessoa física por conta da isenção fiscal.
“Os prêmios nas emissões de papéis incentivados estão fechando [diminuindo] muito rápido, e começo a olhar com um pouco mais de ceticismo. Por isso que não descarto precisar fechar os fundos de papéis incentivados em um futuro próximo”, afirma o gestor da XP Asset.
Em maio, o fundo de debêntures incentivadas da XP somava R$ 930 milhões de patrimônio, contra uma média mais próxima de R$ 800 milhões no intervalo dos últimos 12 meses. No período, o fundo acumulou valorização de 10,3%, contra os ganhos de 4,2% do benchmark IMA-Geral.
De todo modo, o gestor da XP Asset entende também ainda ser cedo para cravar que o mercado de crédito privado está se movendo novamente para um ciclo em que o aumento de demanda achatará os prêmios de tal forma a causar uma saída em massa dos investidores, como em 2019 e 2020.
Mas assinala que é o momento de estar atento e monitorar de perto a evolução das taxas, vis-à-vis o prazo das emissões, para analisar a relação entre risco e retorno na classe. E salienta ainda que cabe ao próprio mercado também assumir o papel de educar o investidor, e, quando julgar necessário, fechar fundos ante a perspectiva de entrega de retornos aquém daqueles propostos em seus mandatos, ou com a necessidade de uma assunção maior de risco.
1% ao mês
Quem já tem data para fechar é o fundo de crédito Meyenii, da Riza Asset. O fundo tem hoje patrimônio de aproximadamente R$ 500 milhões, e seu fechamento está previsto para o dia 30 de agosto. A expectativa é que, até lá, o volume suba para a casa de R$ 1 bilhão.
Segundo o CEO da Riza, Daniel Lemos, a gestora já vinha nas últimas semanas discutindo a ideia de fechar o fundo, e decidiu estender o prazo por mais algum tempo ante a demanda elevada que tem recebido de investidores interessados.
Classificado pelo CEO da Riza como uma espécie de multimercado de crédito privado, o Meyenii tem uma cesta de diferentes ativos que inclui desde CDBs, CRIs e CRAs, até títulos high yield, passando ainda por operações estruturadas de empréstimo direto aos tomadores, conhecidas como direct lending.