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Imprensa
Levy; "É um equívoco dizer que perdi a queda de braço


Em entrevista à jornalista Miriam Leitão, na noite desta quinta-feira, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, falou sobre a redução da meta de superávit primário anunciada por ele e seu colega do Planejamento, Nelson Barbosa, um dia antes. Levy, que vinha afirmando ser contra a redução na meta, negou que tenha “jogado a toalha”.

“Nós não jogamos a toalha. Muito pelo contrário. Nós vamos continuar a nossa política com muito vigor. Mas tem de ser uma política realista. Ao ajustarmos a evolução das receitas, que estão bastante contidas ultimamente. Nosso objetivo é diminuir as incertezas”, respondeu ele à entrevistadora.

Levy também negou que tenha perdido uma “queda de braço” com outros integrantes do governo e mesmo com o Congresso ao apoiar a redução da meta antes do que ele imaginaria ser preciso. “Isso é um equívoco. Eu nunca disse que era para deixar para mais tarde. Não sei como foi que essa ideia surgiu. Você me conhece e sabe que eu trabalho com transparência. Venho comunicando a situação há algum tempo. Publicamos uma nota mostrando que a queda de receitas foi muito além do que poderia se explicar pelo ciclo econômico”, disse.

Para ele, a redução da meta foi necessária pois, com o nível atual de receita, a meta antiga, de 1,1% do PIB, não seria alcançada. A meta foi reduzida na quarta-feira para 0,15% do PIB. “Também venho sinalizando que ajustar a meta não quer dizer reduzir o esforço fiscal, não é mudar a estratégia. A gente tem um rumo a gente tá fazendo ajustes sobre como chegar lá”, disse ele.

O ministro abordou ainda a preocupação com a trajetória da dívida a partir do ano que vem. “A meta inicial foi calculada levando em conta a trajetória da dívida”, disse. Ele considerou que, além do superávit, o governo também deve tratar a dívida dentro de uma dinâmica que envolve outros fatores, como redução do crédito nos bancos públicos e realinhamento dos preços administrados.

“Havia política de expansão significativa de empréstimos dos bancos públicos e agora estamos disciplinando isso. O realinhamento dos preços de energia, por exemplo, trouxe o realismo de preços. Tudo isso tem contribuição positiva para a dívida”, disse.

Levy negou ainda que tivesse dito há alguns dias que “mudar a meta do superávit é uma ilusão”, conforme entrevista publicada pelo jornal “Folha de S. Paulo”. “Eu não disse isso. Eu disse que é uma ilusão pensar que mudar a meta significa estar afrouxando, ou que acabou o ajuste”, afirmou.

Ele admitiu, porém, que a mudança vai prolongar o tempo de aperto na economia, como disse na entrevista. “É evidente. Temos de reequilibrar a economia. Se não fizemos no primeiro semestre, vamos continuar fazendo no segundo. Vamos continuar tomando medidas”, afirmou.

Levy também lembrou que as medidas de quarta-feira incluíram cortes do governo. “O governo aumentou o contingenciamento, cortando na carne. E vai continuar reforçando o quadro fiscal. Temos coisas que dependem do Congresso e coisas exógenas, mas vamos continuar fazendo nossa parte”, disse.

Levy também falou sobre o projeto do governo de unificar a cobrança de PIS e Cofins, que segundo as empresas de serviços, vai aumentar sua carga tributária. “Há um mal entendido. O PIS/ Cofins é sobre valor agregado.

Uma empresa quando vende produto ou serviço tem coisas que ela faz ou agrega e tem insumos que ela compra. É muito complicado, só no Brasil tem. Nós vamos simplificar. Vamos deixar muito claro. Quanto desse produto foi insumo comprado, quanto pagou. A empresa mostra nota fiscal e vai gerar crédito. Agora o serviços vai poder passar a ter crédito. É igual para indústria e serviços. Vai passar a ser reconhecido o de serviços. Vamos organizar o imposto sobre o valor agregado de ambos”, afirmou.

Em seguida, o ministro admitiu que vai haver aumento. “É possível que as empresas tenham aumento. Aliás é uma contradição no Brasil. A gente tributa os setores que sofrem concorrência internacional, como a indústria, e não aquelas que não sofrem concorrência, como serviços. Depois ficamos surpresos porque não somos competitivos em relação ao mundo”, disse.

Levy afirmou que a inflação subiu bastante porque foi preciso realinhar energia, câmbio e combustível, mas que o fato de isso ter sido feito no começo do ano, agora já está dando resultado.

“Estamos fazendo um ajuste clássico. Estamos no meio da travessia, mas sabemos que vamos sair mais à frente. É difícil porque vemos o desemprego, mas teremos gente mudando de um setor para outro mais competitivo. Pode demorar, se não tiver treinamento, mas por isso é bom focalizar programas como o Pronatec

Levy considerou que o BC está sendo muito vigilante sobre a inflação e que os indicadores para o próximo ano estão próximos a 5% e devem chegar a 4,5%, em seguida. “Por isso foi importante fazer o ajuste rápido lá no começo do ano”, completou.

Levy comentou ainda sobre o Programa de Proteção ao Emprego, lançado pelo governo para conter o desemprego. Para Levy, o programa “vai ser um experimento”. “Vamos acompanhar. Vários setores estão encontrando seu caminho, em que se reduz o número de horas para se manter o emprego. O governo não pode subsidiar muito”, afirmou ele.

O ministro disse também que o Brasil terá de inventar novos caminhos para voltar a crescer. “E vai ser uma coisa muito sensacional. A economia se reinventar é muito importante. Temos de ter um certo nível de tranquilidade. Diminuir as incertezas, dimInuir sustos sobre despesas públicas. Ao reduzirmos esses riscos, as pessoas passam a tomar riscos por conta própria, colocar dinheiro onde elas acreditam.”

Levy usou como analogia para o crescimento a necessidade de o Brasil ter de “mudar a fiação”. “O Brasil vai ter de trocar a fiação, senão vai cair. Tem de mudar a infraestrutura, para poder começar em outro ritmo, no século 21, nesse período pós-commodities. Continuando com as coisas em que somos bons, como a agricultura.”

O ministro admitiu que levou “algumas bolas nas costas” do Congresso com medidas que elevaram os gastos em vez de reduzi-los, mas fez um balanço positivo. “Fizemos algumas evoluções. Talvez o fato de o ajuste não ter sido a ferro e fogo pode ter contribuído com a atividade econômica. O resultado primário estrutural mostra que estabilizamos. Ele vinha piorando e agora estabilizou. Paramos de piorar do ponto de vista estrutural e estamos começando a melhorar,” disse.

Para Levy, há uma demora natural em o Congresso entender a urgência das medidas sugeridas, pelo fato de os parlamentares terem amplo leque de assuntos a abordar, mas ele minimiza o estrago. “Pode ter havido alguns equívocos, alguns exageros na aprovação de bombas fiscais, mas a presidente está administrando isso”, afirmou.

Levy avaliou que, a despeito da Operação Lava-Jato, o Brasil precisa investir em infraestrutura e continuar a investir e crescer. “No curto prazo a Lava Jato gera incerteza, mas vamos sair disso e continuar crescendo, com cada vez mais competição no setor e cada vez mais transparência. A governança nesse setor de infraestrutura varia muito de país para país. Temos de valorizar o conhecimento técnico. Muitas obras nossas no exterior, conduzidas por empresas brasileiras, são reconhecidas como padrão muito bom.”

Levy defendeu a proposta de repatriação de recursos de brasileiros no exterior mesmo em tempos de operação Lava-Jato, uma vez que o dinheiro que se busca para reforçar o caixa do governo é de origem lícita. Ele afirmou que esses recursos vão ajudar o país no esforço de caixa sem criação de impostos.

O ministro não quis responder sobre a possibilidade de o país parar diante da abertura de uma CPI do BNDES por “não ter elementos para comentar”. Ele ainda negou que se sinta “bombardeado” pelos próprios colegas de governo e pelo Congresso. “Não me sinto bombardeado. Dentro do governo há entendimento de que a gravidade exige que a gente reme junto. Há questões de comunicação, de envolvimento do Congresso, mas numa democracia vivemos no regime da persuasão. Temos de motivar e explicar os motivos. A estratégia correta é essa”, finalizou o ministro.



     


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