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Imprensa
Juro alto causa desconfiança e está travando os investimentos no País

Para especialistas, indicadores econômicos já mostram forte queda na demanda, apontando para uma necessidade de pausa na Selic; empresários querem incentivo para gerar riqueza e renda

São Paulo - Para especialistas, a alta taxa básica de juros (Selic) está sendo um impasse para a retomada dos investimentos no Brasil, intensificando a desconfiança de empresários e consumidores na economia.

Além disso, ressaltam que os indicadores econômicos já estão registrando uma forte queda da demanda, apontando para a necessidade de uma pausa nos juros.

"Os elementos recessivos na nossa economia estão sendo causados, em grande parte, pelo aumento dos juros. Esse mecanismo serve para reduzir as possibilidades de consumo da população [já que o custo do dinheiro fica mais caro]. Ao retirar essa capacidade, os preços da economia caem. Entretanto, ao reduzir o consumo, a produção e o desempenho econômico também diminuem, causando repercussões diversas, dentre elas, a inibição dos investimentos. Historicamente, a falta de investimento sempre foi uma das barreiras para o crescimento do Brasil", comenta o presidente do Conselho Federal de Economia, Paulo Dantas da Costa.

O especialista diz que "não condena o remédio da taxa dos juros", mas ressalta que o Banco Central (BC) do País tem utilizado o mecanismo "de forma exagerada". "Grosso modo, estamos falando de uma inflação que está em 9% [em 12 meses] e de uma taxa de juros em 14% ao ano. É um exagero que trás desdobramentos nocivos em termos de investimentos. Esses juros poderiam estar em 1 ou 2 pontos percentuais acima da inflação que já conseguiriam controlar os preços", avalia Dantas.

O professor de finanças Adriano Gomes, da ESPM, também concorda que o Brasil tem tomado uma "alta dose de juros", que vem servindo mais "para desestimular a atividade produtiva do que para controlar os preços da economia".

"O desastre no setor produtivo tem sido implacável, enquanto os preços continuam em alta. Para o capitalista que atua em áreas produtivas da economia, a conta não está fechando, porque, para investir, eu capto recursos a juros reais a 8%, 9%, mas o retorno é bem mais baixo que essa porcentagem. Isso trava investimento", afirma Gomes. "Estamos constatando que é isso o que acontece quando escolhemos somente uma via para controlar a inflação", conclui.

Agentes

O presidente da Cofecon diz ainda que o dinheiro precisa ser mais bem distribuído entre os agentes da economia. "O aumento da taxa de juros, tal como acontece no Brasil, coloca grande parte da riqueza nas mãos de agentes econômicos que não cumprem um papel muito importante para o País: que é o de fazer investimentos em áreas produtivas, que gerem renda, emprego e riqueza. Os juros altos beneficiam os rentistas que, ao invés de montar um negócio, por exemplo, deixam o seu dinheiro rendendo no banco", afirma Dantas. "Os juros altos concentram a riqueza no País", opina.

Para alterar esse panorama, Gomes sugere incentivos fiscais e critica alguns aspectos do ajuste do governo. "Na verdade, ao oferecer incentivos fiscais aos empresários, você até ajuda o ajuste, porque vai poder converter os benefícios em PIB [Produto Interno Bruto], de forma a manter os empregos, elevar a produção e gerar renda", diz Gomes.

A expectativa dele é que, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) [entre os dias 28 e 29 de julho], a Selic seja elevada em 0,25 ou 0,50 ponto percentual. Atualmente, a taxa já alcança 13,75% ao ano, enquanto a inflação está em 8,89%, no acumulado em 12 meses.

O professor de economia da Universidade de Brasília (UNB) Roberto Piscitelli, por sua vez, ainda tem esperança de que o BC interrompa o ciclo de alta neste mês, após os últimos indicadores do desempenho do setor de serviços e comércio. "Não há como justificar aumento de juros para controlar a demanda. O consumo já está caindo no Brasil e as pessoas já estão ajustando o seu orçamento, não tem o que mexer", ressalta o professor da UNB.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as vendas no varejo brasileiro tiveram queda de 2% nos cinco primeiros meses deste ano, em relação ao mesmo período de 2014. Somente em maio, a retração foi de 4,5%, ante o mesmo mês do ano passado.

Já o setor de serviços registrou, no mês de maio de 2015, um crescimento nominal de 1,1%, ante igual mês do ano anterior, a menor desde início da série em 2012.

Paula Salati



     


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