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Em meio a quebras, Bonsucesso sobrevive no consignado


Em meio a quebras, Bonsucesso sobrevive no consignado

Por Carolina Mandl | Valor Econômico

 

Paulo Henrique Pentagna Guimarães é dono de um tipo de instituição financeira em extinção, o banco especializado em crédito consignado. À frente do Bonsucesso, o executivo assistiu recentemente a mais de uma dúzia de bancos que tinham como principal negócio o empréstimo com desconto na folha de pagamento desaparecer.

Cruzeiro do Sul, Morada, Schahin e Matone são só alguns dos bancos de pequeno e médio porte que sucumbiram por causa de problemas como fraude, falta de liquidez, insuficiência patrimonial e concorrência acirrada. Enquanto isso, foi a operação dos grandes bancos privados que tomou corpo.

Até mesmo o BMG, maior banco de consignado do país, optou por se unir ao Itaú Unibanco em uma nova instituição. Fundado por um outro ramo da mesma família Pentagna Guimarães, o BMG avaliou que seria difícil continuar a operar com os elevados custos de captação dos bancos médios.

O pequeno Bonsucesso, 45º banco em ativos no país, se manteve em pé e só. "Sim, sou o último dos moicanos", diz Guimarães. O executivo compara o Bonsucesso à trama do livro de James Fenimore Cooper. A história narra a disputa entre franceses e ingleses na América do Norte, com a ajuda de diversos índios, entre eles os poucos moicanos que sobraram no território.

Tal qual em "O Último dos Moicanos", a saga de Pentagna Guimarães não tem sido das mais tranquilas. Desde o ano passado, por causa de uma mudança contábil importante, de nada adianta um banco conceder créditos aos clientes para depois vendê-los aos concorrentes com o objetivo de gerar lucro instantâneo se ainda mantiver responsabilidade sobre problemas com inadimplência.

Bastante comum entre as instituições de médio porte focadas no consignado e em veículos, essa prática foi banida pelo Banco Central. Resultad como quase não tinham carteira dentro de casa para produzir lucro, os bancos médios tiveram prejuízo no ano passado. Foi o caso do PanAmericano, do Votorantim e do próprio BMG.

A saída mais rápida que Guimarães encontrou para o problema foi recomprar os créditos que ele mesmo tinha vendido a outros bancos. Como já tinha relacionamento com essa clientela, foi mais fácil oferecer a ela um pouco mais de dinheiro emprestado para colocá-la dentro de casa de novo.

"Trouxe quase R$ 1 bilhão de volta ao banco em 2012", diz o presidente do Bonsucesso. Até o terceiro trimestre, data do último balanço divulgado pelo banco, a carteira própria tinha crescido R$ 570 milhões no ano, para R$ 2 bilhões, enquanto os empréstimos cedidos vinham caindo.

Na surdina, o Bonsucesso se valeu até da bancarrota do Cruzeiro do Sul, um episódio bastante delicado para os bancos médios. Em junho, a notícia da intervenção do Banco Central na instituição dos Indio da Costa fez o preço dos bônus de dívida externa do banco despencar, carregando junto todos os papéis de bancos médios.

Mais uma vez, Guimarães foi às compras. Dessa vez para reduzir o custo do endividamento do banco. Até setembro, o Bonsucesso tinha adquirido US$ 11,9 milhões do total de US$ 125 milhões de títulos no exterior. O resultado da estratégia deve se tornar público até março, quando o Bonsucesso divulga o balanço. Segundo Guimarães, o banco encerrou 2012 com lucro. "Num ano em que houve quebradeira, somos heróis. Estou muito orgulhoso de ter vencido 2012."

Tanto entusiasmo também se deve ao fato de ter quitado uma dívida contraída cinco anos atrás. Ao ver uma série de bancos médios ir à bolsa de valores, o Bonsucesso tomou um empréstimo de R$ 130 milhões de um banco de investimento para crescer suas operações antes de uma planejada oferta de ações. Com o dinheiro captado dos investidores, pagaria o empréstimo. Guimarães só não contava que, depois da abertura de capital de nove bancos médios, o humor dos investidores mudaria em 2007. Os planos do Bonsucesso tiveram de ser abandonados, mas a dívida ficou lá dentro.

"Se consegui sobreviver a 2012 com dívida, imagina se estivesse com capital?", indaga Guimarães. "Estou tão animado que comprei 8,5% de um edifício na avenida Faria Lima", afirmou, referindo-se ao nobre corredor financeiro de São Paulo.

Apesar do otimismo, Pentagna Guimarães ainda guarda alguns pontos de interrogação sobre o que será do futuro do banco. Não é nada difícil que alguma instituição ataque sua clientela, prática bastante comum na disputa pelo crédito consignado. "Daqui a um ano, podem roubar de novo minha carteira. Mas fazer o que? É preciso fazer uma coisa de cada vez, como dizia meu pai." O patriarca Paulo Vivas Guimarães fundou o Bonsucesso.

Uma das apostas de Guimarães é que as regras da operação de consignado vão se tornar mais favorável, mudando, por exemplo, a forma de remuneração dos chamados "pastinhas", promotores terceirizados que vendem o consignado. Para ganhar clientes, os bancos aumentam as comissões, o que muitas vezes corrói a própria lucratividade da operação. Para acabar com operações sem retorno, o Bonsucesso cancelou mais de 200 convênios com órgãos públicos.

Dentro de casa, junto com três filhos mais o irmão, Guimarães também busca diversificar as atividades do banco. Inaugurou uma mesa de câmbio, comprou uma plataforma de cartões para viagem internacional e começou a operar com cartões pré-pagos.

O produto que vem sendo avaliado por analistas como o mais bem-sucedido no que se refere à diversificação é o cartão de crédito para empréstimo consignado, por ser mais rentáveis, na comparação com o consignado tradicional. O problema é que há concorrentes já de olho nesse seara, como o Bradesco. "Sei de ao menos um banco grande e outro médio que querem entrar no segmento. É um risco", afirma Pedro Gomes, analista do Bonsucesso.

É o consignado, diz Guimarães, que continuará sendo o principal produto do último dos moicanos. (Colaborou Karin Sato)



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