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Um jantar melancólico, como o ano dos bancos

 

Um jantar melancólico, como o ano dos bancos

Por Vanessa Adachi, Carolina Mandl e Felipe Marques | De São Paulo

 

Enquanto a cidade de São Paulo entrava em colapso sob a primeira chuvarada de dezembro na noite da última quinta-feira, 13, dois executivos de bancos médios e a diretora de uma grande instituição privada conversavam descontraidamente no salão ainda vazio, alheios ao caos que retardava a chegada dos demais convidados. Entre as amenidades, alguém de repente mencionou a palavra bônus. "Bônus? O que é isso? Ninguém se lembra mais", disse um dos homens, agitando o copo de uísque no ar. Muitas piadinhas se seguiram, todas na mesma linha.

Conforme os convidados venciam o trânsito travado e enchiam o saguão do hotel Unique, na região sul da cidade, ficava claro que aquele jantar de fim de ano da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) fugia ao padrão. Ao fim de um ano em que a inadimplência teimou em não ceder, em que o crédito não avançou como se esperava - especialmente entre as instituições privadas - e o governo lançou uma cruzada contra os altos spreads e as tarifas cobrados dos clientes, o clima entre os bancos não estava para comemoração.

"O ano foi difícil", disse o presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, um dos últimos a chegar à festa num início de noite marcado por 17 pontos de alagamentos e 190 km de trânsito na cidade. O banqueiro chegou mais de meia hora depois do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.

As queixas se repetiam pelo salão. "O ano de 2012 foi frustrante", disse João Ayres Rabello Filho, presidente do Tribanco, banco do grupo atacadista Martins. "As vendas do grupo neste fim de ano foram as melhores em quatro anos, mas o crédito não reagiu", disse. E o bônus? "Nos bancos comerciais, este ano os bônus serão baixíssimos, mais para retenção do que para premiação", disse Rabello.

Com o setor de baixo astral, o próprio jantar de fim de ano da Febraban, uma tradição há dez anos, esteve ameaçado. Um banco importante não queria que a festa acontecesse. Quando finalmente ficou decidido que o jantar ocorreria, o hotel Hyatt, o preferido para o evento, já não tinha datas disponíveis. Sobrou o Unique. Os banqueiros, porém, reclamam que o salão do hotel fica no subsolo, sem sinal de celular, e que não existe uma entrada privativa para autoridades e convidados mais importantes.

Na confusão, os convites chegaram em cima da hora e apenas por e-mail. Cônjuges foram vetados, o que, além de cortar custos, deu um tom menos festivo ao encontro.

Nomes de peso da banca privada faltaram ao jantar, deixando algumas cadeiras vazias na mesa principal. Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco, estava em Paris e não compareceu. O presidente do Santander, o espanhol Marcial Portela, também não se fez presente. Alexandre Tombini, o presidente do Banco Central, jantou na companhia de Murilo Portugal, presidente da Febraban, Roberto Setubal, André Esteves, presidente do BTG Pactual, e Carlos Alberto Vieira, presidente do conselho do Banco Safra, Louis Bazire, presidente do BNP Paribas Brasil, e Hélio Lima Magalhães, presidente do Citibank no Brasil.

Enquanto muitos paulistanos lembravam de Gilberto Kassab (PSD) sob os efeitos da chuva, o prefeito de São Paulo dividia a mesa com os banqueiros, o vice-governador Guilherme Afif Domingos e a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.

Dos discursos da noite, quase nenhuma menção ao ano difícil dos banqueiros. O presidente da Febraban, Portugal, continuou na tentativa de "fazer as pazes" com o governo, depois de a relação azedar em meio à pressão pelas quedas nas taxas de empréstimos bancários. "Era preciso reduzir o elevado custo do crédito no Brasil. Isso não é só nossa tarefa [dos bancos], mas é uma tarefa com a qual estamos comprometidos", afirmou. Foi justamente o engajamento da entidade que foi colocado em jogo pelo governo na ocasião.

Quem trouxe as pequenas boas novas da noite foi o presidente do BC, que prometeu em seu discurso reduções no "custo de observância" dos bancos no ano que vem. Tombini afirmou que serão eliminadas as exigências de informações redundantes e que já não contribuem mais para a supervisão. Também disse que as regras de Basileia 3 serão adotadas em um cronograma "adequado" e que isso ocorrerá "sem perturbações".

Os prognósticos para 2013 tampouco deram motivo para tornar a confraternização menos sóbria. Diante da pergunta sobre o que espera para o próximo ano, Roberto Setubal, do Itaú, balançou a cabeça num sinal de mais ou menos e disse que deve ser um pouco melhor que 2012, mas nada excepcional. "O crédito deve crescer 10% a 15%. Mais nos bancos públicos, mas com os privados crescendo também." Outro banqueiro de uma instituição de grande porte arriscou uma expansão do crédito entre 12% e 15%. "E, se isso se confirmar, já terá sido bom."

Sem demonstrar entusiasmo, José Luiz Acar Pedro, presidente do PanAmericano, disse que 2013 deve ser "um pouco melhor". Em seguida, fez um aceno com a cabeça para a direita, na direção de um colega e disse: "O Paulo Henrique é que está animado".

Paulo Henrique Pentagna Guimarães, dono e presidente do banco Bonsucesso, teve um 2012 particularmente difícil. Seu banco opera no crédito consignado e sofreu com mudanças contábeis, dificuldades de captação de recursos, menor originação de crédito e a ressaca da quebra do Cruzeiro do Sul, que operava no mesmo segmento. Diante disso tudo, fica até compreensível o otimismo com 2013. "O consignado voltará a ser um bom negócio", afirmou.

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http://www.valor.com.br/financas/2941890/um-jantar-melancolico-como-o-ano-dos-bancos#ixzz2Fhohcl72

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