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A ampliação da rede de serviços sem abertura de novas agências

 

A ampliação da rede de serviços sem abertura de novas agências

Por Valor Econômico S.A.

 

Nos últimos anos houve uma importante expansão na presença de correspondentes bancários no Brasil. Os correspondentes bancários são estabelecimentos comerciais, como lotéricas, correios ou farmácias que, além de sua atividade principal, oferecem serviços de alguma instituição financeira. Trata-se de inovação que reduz os custos e diminui a necessidade de escala na oferta de serviços financeiros, aumentando a capacidade de alcance das instituições financeiras. Sendo assim, é possível que eles estejam contribuindo para o aumento no acesso a serviços financeiros no país.

O presente trabalho visa contribuir para a literatura de desenvolvimento financeiro, melhorando a compreensão acerca dos correspondentes bancários no Brasil. Trata-se de um assunto ainda muito pouco explorado, mas com potencial para ajudar no entendimento das barreiras ao acesso ao sistema financeiro e de formas para superá-las.

A importância do desenvolvimento financeiro para uma economia é algo já documentado. A literatura existente traz evidências de que ele contribui para o crescimento agregado (Levine, 1997; 2005), porém, isso não significa que seus benefícios sejam estendidos de forma homogênea para toda a população e em todas as regiões. A diferença no acesso a serviços financeiros entre países desenvolvidos e em desenvolvimento e, em muitos casos, entre regiões de um mesmo país, permanece marcante (CGAP, 2009; WB, 2010). Além disso, há evidências de que a inclusão financeira e o grau de desenvolvimento financeiro local são relevantes para o desenvolvimento das regiões (Guiso et al, 2004b; Black, Strahan, 2002; Burgess, Pande, 2005).

Número de correspondentes bancários salta de 20 mil, em 2000, para 130 mil, em 2008

Nesse estudo foi analisado o processo de expansão dos correspondentes bancários e as funções que os mesmos têm desempenhado. Para isso, estudamos as características dos municípios em que eles estão se instalando. E, por meio dessas informações, buscamos verificar se os correspondentes estão realmente melhorando o acesso ao sistema financeiro e se direcionando para regiões com acesso limitado a serviços financeiros, dando ênfase à sua relação com as agências bancárias. Também foi analisada a influência dos benefícios governamentais em sua expansão.

Os resultados indicam que há uma relação de substituição entre agências e correspondentes, e que o público atendido pelos correspondentes não é perfeitamente igual ao público atendido pelas agências, pois há evidências de que os correspondentes estão se direcionando para regiões de menor renda. Além disso, verificamos que a quantidade de pessoas recebendo benefícios governamentais é um fator de influência na presença dos correspondentes.

Correspondentes bancários

O número de instalações de correspondentes no país cresce rapidamente. Em 2000, havia aproximadamente 20 mil correspondentes, chegando a quase 130 mil em 2008. Dessa forma, hoje, praticamente todos os municípios do país têm acesso a serviços bancários.

Esse tipo de serviço foi adotado tanto por bancos públicos como privados. Como o custo de abertura de um correspondente é baixo, ele é economicamente viável com um fluxo menor de serviços. Contudo, a presença dos correspondentes não se limita a regiões remotas ou de baixa população. Eles também apresentaram elevado crescimento nos grandes centros, sendo Rio de Janeiro e São Paulo as cidades com o maior número de correspondentes (mais de 4 mil e mais de 8 mil, respectivamente).

Os serviços autorizados abrangem pagamentos, abertura de contas, cartões de crédito, empréstimos, dentre outros. A combinação de serviços oferecidos por um correspondente pode variar bastante. Enquanto há correspondentes que oferecem todos os tipos de serviços, alguns só realizam pagamentos de contas, enquanto outros só fazem empréstimos e financiamentos.

Até o momento em que esse trabalho foi concluído, as principais instituições que possuíam correspondentes bancários eram a Caixa Econômica Federal (CEF), o Bradesco, o Banco do Brasil, além de outras instituições de crédito.

Metodologia e resultados

As análises desse trabalho foram realizadas por meio de painéis nos quais a variável dependente é o número de instalações de correspondentes bancários per capita em um município. As variáveis explicativas são dados socioeconômicos de cada cidade, o número de entrepostos financeiros per capita por município, e dados sobre benefícios governamentais.

Com os dados disponíveis foi possível construir painéis com os anos de 2000 a 2008. Foram feitas regressões por mínimos quadrados ordinários (MQO) e, para controlar as especificidades de cada município, também foram estimados painéis com efeito fixo.

Por meio das regressões estimadas, buscou-se uma melhor compreensão da atuação dos correspondentes em uma série de pontos. Em especial, analisamos a relação entre os correspondentes e as agências bancárias, assim como a contribuição dos correspondentes na ampliação do acesso ao sistema financeiro. Outro aspecto estudado foi a influência da distribuição dos benefícios governamentais na expansão dos correspondentes.

Relação com agências

Analisando a relação entre os correspondentes e as agências bancárias, os resultados indicam que, ainda que haja características específicas dos municípios que atuam atraindo correspondentes e agências, no processo de expansão dos correspondentes há uma relação de substituição com as agências.

Um grande número de correspondentes está presente em regiões mais populosas e com mais agências, mas também em regiões mais isoladas.

É necessário estudar as soluções encontradas para aumentar alcance das instituições financeiras

Além disso, as estatísticas descritivas mostram que há uma correlação positiva entre agências e correspondentes, mas que diminui em municípios de menor população. As regressões sem efeito fixo para o total de instalações confirmam essas informações, pois, enquanto há uma relação positiva e significante para o total de municípios, nas estratificações da população essa relação só se mantém significante para cidades grandes. Portanto, existem evidências de que há fatores que atraem tanto agências quanto correspondentes. Esses fatores podem estar relacionados a características específicas de cada município - tais como o dinamismo da atividade econômica do município ou o nível de educação financeira da população - e fariam com que a demanda por serviços financeiros fosse maior.

Já, quando controlamos as regressões por efeito fixo, estamos eliminando qualquer característica fixa no tempo, controlando desse modo os fatores específicos de cada município que podem estar afetando a presença de instalações de correspondentes. Com isso, passamos a observar a relação entre a variação no tempo de cada componente presente na regressão. Nas estimações com efeito fixo a relação entre agências e correspondentes passa a ser negativa. Esses resultados trazem evidências de que, no processo de expansão dos correspondentes, há uma relação de substituição com as agências.

A relação de substituição entre agências e correspondentes pode ser explicada pelas possibilidades abertas pela criação dos correspondentes. As diferenças de custo existentes entre os dois tipos de estabelecimento permitem às instituições financeiras uma maior otimização na distribuição de seus serviços. Desse modo, regiões nas quais não havia demanda suficiente para serviços financeiros, na quantidade ou no nível de complexidade que uma agência pode oferecer, podem ser atendidas por correspondentes.

Oferta de serviços financeiros

Aspectos da região em que o município se insere devem ter influência sobre a disposição dos correspondentes bancários. Há, por exemplo, evidência anedótica de que em municípios sem agências bancárias as pessoas precisavam se deslocar para municípios próximos para receber seus pagamentos, tendo de arcar com custos do deslocamento e ficando expostas a riscos como o de assaltos no trajeto. Os correspondentes seriam, então, solução para a oferta de serviços financeiros nesses municípios.

A presença dos correspondentes pode ser afetada pela existência de agências nas cidades próximas ao município em questão. Para se verificar como isso ocorre, usamos variável que inclui a quantidade de agências per capita nas cidades dentro de um raio em volta dos municípios e a colocamos na regressão juntamente com a variável que contém a quantidade de agências per capita no município. Para as cidades pequenas e alguns casos das cidades médias, obtemos coeficientes positivos e significantes quando controlamos por efeito fixo. Possível explicação para isso é que em cidades que não são grandes e que são próximas de cidades com agências não haveria escala suficiente para a abertura de agências, uma vez que as cidades em volta já oferecem esse serviço. Nesse caso seria mais viável a presença de correspondentes, visto que eles possuem menor necessidade de escala.

É possível que municípios que eram desprovidos de agências (ou que tinham, relativamente, poucas agências), devido ao fato de que já havia agências nas regiões próximas, estão sendo munidos de correspondentes.

Renda

A necessidade de escala para uma agência não está relacionada apenas à quantidade de pessoas, mas à lucratividade dos serviços que podem ser oferecidos. No trabalho de Mas e Siedek (2008), os autores sugerem que a redução de custos possibilitada pelos correspondentes permite que os bancos ofereçam serviços para clientes que normalmente não seriam lucrativos para uma agência. Para verificar isso, analisamos como a presença de correspondentes se comporta de acordo com o nível de renda da população. Os resultados sugerem que há um direcionamento de correspondentes para municípios com menor renda, pois, em geral, as variáveis relacionadas à renda possuem relação negativa com a presença de correspondentes, enquanto para as agências observamos o contrário.

Sendo assim, temos evidências de que há diferenças entre os públicos atendidos pelos correspondentes e pelas agências, com os correspondentes direcionando-se para regiões de menor renda e, portanto, de menor possibilidade de lucros para agências. Isso dá a entender que os correspondentes estariam contribuindo para ampliar o acesso aos serviços financeiros, pois estão atendendo um mercado de menor interesse para as agências bancárias.

Bolsa Família e INSS

Alega-se que um dos incentivos à criação dos correspondentes era o de aumentar a capilaridade das instituições financeiras para auxiliar na distribuição dos benefícios governamentais (Kumar et. al., 2006). Desse modo, é de se esperar que o número de pessoas recebendo auxílio do governo nas cidades influencie a presença das instalações dos correspondentes bancários.

Os resultados mostram que, em geral, a relação entre o número de beneficiários per capita do Bolsa Família e o número de correspondentes é negativa. A exceção é o serviço de abertura de contas, que apresenta uma relação positiva. Como o recebimento do Bolsa Família não requer abertura de conta, é possível que seus beneficiários estejam estendendo seu uso dos correspondentes para esse serviço. Nesse caso, os correspondentes estariam contribuindo para aumentar a inclusão financeira desse grupo.

Ainda que a relação dos correspondentes com os beneficiários do Bolsa Família em geral seja negativa, a expansão dos correspondentes no início do Bolsa Família esteve relacionada à presença de beneficiários do programa, pois, para o ano de 2003, essa relação é positiva. Já, quando colocamos as agências como variável dependente e fazemos o mesmo exercício, não observamos o mesmo resultado.

Uma possível explicação que podemos retirar desses resultados é que, com o início do Bolsa Família, surgiu uma demanda por serviços financeiros por parte de um grupo da população cujo atendimento pelas agências bancárias era deficiente. Os correspondentes, então, surgiriam como uma solução viável para atender a essa demanda. Esse resultado permanece mesmo quando excluímos os correspondentes da CEF.

Fizemos o mesmo exercício para o número de beneficiários per capita do INSS e observamos uma relação positiva, indicando que a quantidade de pessoas recebendo o benefício afeta a presença de correspondentes.

Um fator que pode estar influenciando a expansão das instalações dos correspondentes é o advento do crédito consignado. Os beneficiários do INSS constituem o maior mercado para esse tipo de empréstimo, pois os pagamentos são garantidos pelo Tesouro Nacional e, portanto, o risco é menor em comparação aos trabalhadores da iniciativa privada. Sua expansão iniciou-se em 2004, mas se tornou mais expressiva em 2005 e vem crescendo desde então (Coelho et. al., 2010).

Para verificar se essa expansão do crédito consignado afetou a presença dos correspondentes, verificamos como foi a relação com beneficiários do INSS nos anos de 2005 a 2008. Ao contrário dos anos anteriores, para esse período há uma relação predominantemente positiva. O mesmo não ocorre para as agências. Sendo assim, temos evidências de que, com o advento do crédito consignado, houve um aumento da demanda por serviços financeiros que passou a atrair a presença de correspondentes.

Conclusão

Diante da importância do desenvolvimento financeiro regional e da inclusão financeira, torna-se necessário o estudo das soluções encontradas para aumentar o alcance das instituições financeiras. Esse trabalho busca contribuir nesse sentido, ao aprofundar o conhecimento da atuação dos correspondentes bancários, inovação que reduz custos e diminui a necessidade de escala na oferta de serviços financeiros. Portanto, tem potencial para melhorar o acesso ao sistema financeiro em muitas regiões.

Foram encontradas evidências de que os correspondentes estão contribuindo para a ampliação do acesso a esses serviços, seja atuando como substitutos às agências, o que permite a flexibilização da oferta de serviços financeiros, ou ampliando o público atendido pelas instituições que os ofertam. Este público abrange tanto pessoas de menor renda quanto aquelas que recebem benefícios governamentais.

Leia mais em:
http://www.valor.com.br/financas/2938210/ampliacao-da-rede-de-servicos-sem-abertura-de-novas-agencias#ixzz2FhQWLk5e

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