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Grandes bancos avançam no consignado

 

 

Grandes bancos avançam no consignado

 

Instituições de porte investem nos empréstimos descontados em folha de pagamento, onde pequenos e médios enfrentam dificuldades
05 de junho de 2011 | 0h 00
Leandro Modé - O Estado de S.Paulo

Em 2007, os bancos de pequeno e médio portes tinham três quartos do mercado de crédito consignado. Hoje, essa participação é de 50%. No mesmo intervalo, as grandes instituições de varejo elevaram sua fatia de 25% para 50%. Segundo especialistas, a tendência é de que esse movimento se aprofunde nos próximos meses e anos, o que traz mais um desafio na já complicada vida dos menores.

Essa mudança de perfil do negócio é explicada por dois movimentos. De um lado, os grandes bancos acordaram para o segmento. De outro, os pequenos e médios vêm enfrentando uma série de dificuldades, que os levaram a botar o pé no freio na concessão de empréstimos em geral, o que atingiu também o consignado.

"O que aconteceu nesse segmen to é o óbvio: só quem tem escala consegue fazer essa operação ser rentável", afirmou um banqueiro que desistiu do consignado há cerca de dois anos. Um alto executivo de uma instituição de varejo confirma: "O modelo de negócios que os bancos pequenos imaginaram lá atrás para o consignado não funciona mais".

O analista de instituições financeiras da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu, explica a que se refere o executivo. Em primeiro lugar, a margem de lucro dos bancos com o consignado é menor que a de outras operações de crédito às pessoas físicas. Ou seja, para ganhar dinheiro com o negócio, é preciso volume. Em outras palavras, ter escala.

O segundo ponto é que essa margem já reduzida ficou ainda menor com os obstáculos à captação de recursos que os bancos pequenos e médios passaram a encontrar depois do estouro da crise global. Na prática, isso significa dinheiro mais caro.

"Entre 2002 e 2008, vivemos um período de extrema bonança. Havia funding para tudo e p ara todos", lembra o presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Renato Oliva. A entidade representa justamente as instituições financeiras de menor porte. "A partir da crise, o foco dos bancos pequenos e médios passou a ser o funding. Antes, era o produto de crédito."

Efeito Panamericano. Essa situação piorou ainda mais depois do escândalo do banco Panamericano e de medidas adotadas por autoridades brasileiras e internacionais para reduzir a velocidade de concessão de empréstimos no País e aprimorar o funcionamento do sistema financeiro internacional.

A fraude de R$ 4,3 bilhões no ex-banco de Silvio Santos afetou em cheio as instituições pequenas e médias por causa das chamadas cessões de crédito. Esses bancos formavam carteiras de empréstimos (por exemplo, no consignado) e as revendiam para os grandes, como Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander. O objetivo era antecipar recursos que só entrariam no caixa alguns anos depois.

O proble ma é que a fraude se concentrou justamente na contabilização falsa na venda desse tipo de carteira. É como se o Panamericano tivesse vendido mais de uma vez a mesma carteira - apenas por hipótese, uma vez para o BB, outra para o Bradesco, etc. Não há no Brasil um controle dessas operações. Na dúvida, os grandes bancos praticamente pararam de negociar esses pacotes de empréstimos. Ou seja, essa receita (para os pequenos) minguou do fim de 2010 para cá.

Com relação às novas regulamentações, Santacreu diz que, a partir de 1.º de julho, as instituições financeiras precisarão de mais capital para poder emprestar a prazos mais longos. É uma regra do Banco Central (BC) estimulada por mudanças em âmbito global definidas pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS, o banco central dos bancos centrais, na Suíça).

Freio. Internamente, o BC adotou as medidas chamadas de macroprudenciais. No dia a dia do setor financeiro, significou um freio em diversos segmentos do crédito. " Temos, então, quatro fatores atuando ao mesmo tempo: reduz-se a disponibilidade para empréstimos de longo prazo, custos de captação mais elevados e necessidade maior de capital", resumiu Santacreu.

Por fim, ele acrescenta: os custos com os chamados pastinhas, que vendem o consignado para os clientes, cresceram drasticamente. Segundo um executivo de banco grande, a comissão paga chega hoje a até 25% do valor da operação. "Considerando tudo isso, é natural a migração para os bancos maiores."

Oliva, da ABBC, contesta. "Não existe isso de o mercado ficar para os grandes", afirmou. "O mercado é de todos." Oliva garante que os pequenos e médios não se assustam. "Gostamos da competição, ficamos melhores por causa dela. O que não gostamos é de reserva de mercado", disse, referindo-se à exclusividade que alguns bancos grandes (sobretudo o BB) exigiam de seus parceiros (governos estaduais, prefeituras, INSS, etc) e acabou derrubada por uma nova regra do BC.

Hoje, o líder do consignado (um mercado de quase R$ 145 bilhões) é o Banco do Brasil. Sozinha, a instituição tem praticamente um terço desse montante. Em segundo lugar, vem a Caixa Econômica Federal, seguida pelo Bradesco. Esses dados são extraoficiais, porque não há um ranking do segmento.

O vice-presidente do BB, Paulo Rogério Caffarelli, avisa que o consignado está entre as prioridades da instituição na área de crédito à pessoa física, ao lado de veículos e imóveis. É um apetite a se respeitar, uma vez que o BB, maior banco do País, tem hoje 55 milhões de clientes. "O consignado é consequência do aprimoramento dos negócios do banco com seus clientes", disse Caffarelli.

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