Área exclusiva de acesso do associado ANEPS. Para acessar a área restrita da CERTIFICAÇÃO, CLIQUE AQUI

Imprensa
Sem freio no crediário

 

 

Sem freio no crediário

 

Apesar de medidas do governo para conter crédito, grandes varejistas mantêm taxas e prazos

Hudson Pontes

Fabiana Ribeiro, Ronaldo D'Ercole e Lucianne Carneiro

RIO e SÃO PAULO    O Globo - RJ



Na semana de estreia do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de 1,5% para 3% anuais, no crédito a pessoas físicas, levantamento feito pelo GLOBO em grandes redes varejistas do país aponta que a ofensiva do governo, iniciada em dezembro, para conter o consumo e aliviar as pressões inflacionárias surtiu pouco efeito até agora. Em várias redes, não houve alteração nos planos de financiamento para o consumidor. O que, segundo economistas, já coloca em dúvida se o conjunto de medidas macroprudenciais do governo — que incluem restrições ao financiamento de longo prazo, sobretudo de veículos, e elevação dos compulsórios dos bancos ainda antes do fim de 2010, passando por duas altas na Selic neste ano, além do recente aumento do IOF — será suficiente para conter a forte demanda no país. Ao tentar dar um freio no consumo dos brasileiros, o governo espera segurar a inflação — cujas expectativas para 2011 já ultrapassam os 6%, acima do 4,5% do centro da meta.

O Grupo Pão de Açúcar — com as bandeiras Pão de Açúcar, CompreBem, Sendas, Extra, Ponto Frio, Taeq, Sendas e Assaí — não modificou a forma de pagamento em suas lojas em relação a dezembro. Não houve mudanças também na Marisa. A empresa afirma que não foi atingida pelas medidas do Banco Central. Na rede de moda feminina, cerca de 80% das vendas são parceladas em até cinco vezes sem juros. A situação é a mesma na Casas Bahia. E na Leader, planos e taxas permanecem inalterados — com juros mensais de 6,90% e parcelamento em até dez meses no Cartão Leader.

— Além disso, em nosso calendário comercial, continuamos a contemplar os planos com carências especiais, com até 100 dias para começar a pagar, em caso de compras no plano par celado (como Coleção Outono-Inverno e Dia das Mães, por exemplo) — acrescentou Gisele Antunes, diretora da Leader Card.

Já a rede Riachuelo não tem mais os mesmos prazos de dezembro. Se antes era possível pagar as compras em até 10 meses, agora, o parcelamento caiu para até oito meses. Carência de até 100 dias e taxa de juros de 6,90% ao mês permanecem os mesmos.

Brechas via leasing e pré-datado

Segundo Luis Otávio Leal, economista do banco ABC Brasil, a recente elevação do IOF não amplia o custo do crédito para os bancos. Então, o impacto da medida está, afirma, na reação da demanda do consumidor. Ele acredita, contudo, que o mercado sempre encontra brechas e uma delas pode ser, no caso dos automóveis, o leasing — que não seria afetado pela ampliação do imposto.

— Já no comércio popular, o que pode haver é uma volta ao cheque pré-datado. O que não é bom, pois, além de não ser um recurso seguro para o consumidor, dificulta análises sobre o crédito. E, dia nte de uma demanda aquecida, os mercados estão céticos em relação aos efeitos sobre a inflação. É preciso esperar para ver quem está com a razão — disse Leal.

Levantamento da Associação Nacional de Executivos de Finanças (Anefac) mostra que os juros médios dos financiamentos ao consumo (CDC, cartão de crédito, crediário no comércio, etc) chegaram a recuar. Eram de 6,74% ao mês em novembro, antes do início da investida do governo, e em fevereiro estavam em 6,73% mensais. Nesse mesmo período, porém, houve um encolhimento dos prazos: para veículos, o prazo máximo caiu de 80 para 60 meses, e o médio, de 60 para 40 meses; e no financiamento de bens diversos, o máximo recuou de 36 para 24 meses, e na média de 16 para 14 meses.

— As medidas, por si só, não inibiram o consumo, porque o ambiente econômico continua muito bom. Os promotores financeiros, com boas margens e inadimplência ainda baixa, atraem consumidores sem ter de elevar os juros dos financiamentos — diz Miguel de Oli veira, vice-presidente da Anefac.

Outra pesquisa, divulgada ontem pela Serasa Experian, revelou que a inadimplência subiu 1,7% em fevereiro, completando sete meses seguidos de alta. Apesar disso, o indicador permanece “inferior ao padrão histórico brasileiro”. “Desta maneira, a elevação dos níveis de inadimplência dos consumidores não configuraria, por ora, descontrole, mas um movimento de retorno aos patamares históricos”, diz o estudo da Serasa Experian.

Pesquisa da Federação do Comércio de São Paulo (Fecomércio-SP) mostra que o faturamento do varejo em fevereiro somou R$8,1 bilhões, valor 7,1% maior que o mesmo mês de 2010, e o maior desde que a sondagem começou a ser feita, nos anos 1970. No primeiro bimestre, as vendas do comércio na região metropolitana de São Paulo, que responde por 15% do varejo do país, acumula alta de 6,9% ante 2010.

Dois fatores explicam por que o esforço do governo não prosperou até aqui, segundo Altamiro Carvalho, economista da Fecomércio-SP. Na ponta do consumidor, houve um aumento de 2,1% na massa de rendimentos da região no primeiro bimestre, quando a taxa de desemprego também atingiu seu nível mais baixo em muitos anos. Na outra frente, a oferta de crédito também subiu: a média diária de concessão de financiamentos entre janeiro e fevereiro cresceu 11% ante igual período de 2010, que já estava aquecido, segundo o Banco Central.

— Mesmo com a alta dos juros, a renda continua aumentando, assim como a confiança do consumidor. E o crédito não encareceu a ponto de inibir a decisão das pessoas de comprar a prazo — diz Carvalho.

Analistas esperam novas medidas

As perspectivas de alteração desse cenário favorável ao crédito, observa Carvalho, da Fecomércio-SP, não são imediatas. Além de prever a continuidade da baixa inadimplência no segundo semestre, quando grandes categorias profissionais (como bancários, petroleiros e metalúrgicos) terão data base, ele aposta numa tendência de co rreções elevadas nos salários.

— No segundo semestre, haverá mais reflexo das medidas e da alta da Selic, com um quadro menos expansivo, mas não vemos queda ou recessão, apenas crescimento a taxas mais modestas.

É quase certa, por isso, a continuação das medidas do governo em conta-gotas para tentar enquadrar a demanda.

— Possivelmente, o governo terá de implementar novas medidas mais adiante para efetivamente frear o consumo — diz Oliveira, da Anefac.

Ontem, na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), os papéis dos bancos voltaram a recuar, com o temor do impacto de novas medidas macroprudenciais. Recuaram Banco do Brasil ON (1,33%, para R$29,00), Itau Unibanco PN (0,74%, para R$37,37) e Bradesco PN (0,65%, para R$32,24). O Ibovespa, referência do mercado, caiu 0,81%, aos 68.164 pontos. A queda no preço do petróleo puxou para baixo as ações da Petrobras e da OGX.

OGX ON (ordinária, com direito a voto) foi a segunda maior queda do Ibovespa, de 3,16% , para R$19,90. Petrobras PN (preferencial, sem voto) caiu 1,86%, para R$27,49, enquanto a ordinária recuou 1,43%, para R$31,02. Os papéis refletiram a queda no preço do petróleo no mercado internacional.

— A Bolsa estava meio de lado e Wall Street começou a cair, influenciando nosso mercado. O destaque foi o petróleo — afirmou o sócio da Beta Advisors Rodrigo Menon.

Já o dólar acabou avançando 0,44% ontem, a R$1,581, depois de recuar 2,35% na semana passada. O movimento, segundo analistas, foi pontual e a moeda americana mantém tendência de queda.

— É natural uma correção técnica depois de uma queda como a da semana passada. Mas a tendência de desvalorização do dólar permanece soberana — afirma o analista da BGC Liquidez Mario Paiva.

RECEBA NOSSAS NOVIDADES

Este site usa cookies para fornecer a melhor experiência de navegação para você. Para saber mais, basta visitar nossa Política de Privacidade.
Aceitar cookies Rejeitar cookies