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A crise levou os bancos para linhas mais seguras; cartão e consignado ganham espaço CDC e empréstimo

 

Financeiras: A crise levou os bancos para linhas mais seguras; cartão e consignado ganham espaçoCDC e empréstimo pessoal definham

Fernando Travaglini, de São Paulo 30/11/2009

 A crise pode ter jogado a pá de cal nas modalidades mais tradicionais do financiamento ao consum o crédito direto ao consumidor e o empréstimo pessoal. Essa morte já era anunciada, mas vinha ocorrendo de forma lenta, à medida que o cartão de crédito e o empréstimo consignado tomavam conta desse mercado. A explosão de inadimplência vista logo após o agravamento das turbulências internacionais, no entanto, acelerou a retirada dos grandes bancos desse nicho de crédito sem garantia e voltado para os chamados não clientes.

Se há cinco anos o consignado respondia por um terço dos empréstimos pessoais, enquanto a linha tradicional ficava com o restante, hoje a proporção se inverteu, com tendência de aumento da modalidade com desconto em folha. Já o CDC tradicional recuou 22% desde a crise, ao passo que as faturas de cartão de crédito avançaram 33% em doze meses. A explicação está na mudança de estratégia dos bancos.

O Bradesco fez uma ampla reformulação na sua financeira e encerrou a operação de crédito pessoal para não correntistas. Mais do que isso, as marcas Finasa e BMC deixam de existir e surge a Bradesco Financiamentos, em uma estratégia para unir os nomes em torno do banco, seguindo o apelo da bancarização.

A ideia é manter apenas o financiamento de veículos e o consignado, encerrando sua operação de rua, disse Arnaldo Vieira, vice-presidente do Bradesco. "O crédito pessoal estava definhando desde a criação do consignado, com um público reduzido e certamente problemático em termos de qualidade."

No mesmo caminho, logo após a fusão, o Itaú fechou a financeira Taií, mantendo apenas a Fininvest, oriunda do Unibanco, mas essa também começou a encolher. Segundo o banco, foram fechadas algumas unidades não rentáveis, de forma pontual. O Santander também decretou uma mudança estratégica na financeira Aymoré, do Banco Real, em busca de maior rentabilidade.

Já a expansão do Banco do Brasil, único dos grandes bancos que avançou durante a crise, se deu basicamente no consignado para correntistas. "À exceção de financiamento para veículos, nosso crédito é basicamente para clientes", disse o diretor de crédito do banco estatal, Walter Malieni.

Os pequenos e médios bancos também recuaram. Responsáveis por 45% do crédito pessoal do sistema financeiro, essas instituições sofreram com a falta de liquidez e praticamente todas reduziram suas equipes de venda.

O Safra havia concluído um processo de criação de uma área de crédito de rua, em meados de 2008. Foram contratados cerca de 500 bancários, segundo informações do sindicato. Em setembro, veio o estouro da crise e a nova divisão foi desfeita. Somente agora, um ano depois, o banco começou a remontar a operação, mas a estratégia é outra. O foco está nas agências, não mais na abordagem de rua. Conhecer o cliente é mais importante do que nunca.

"Uma base mais conhecida pelo banco tem, em média, um desempenho 25% melhor em termos de inadimplência", relata Adalberto Savioli, presidente da Acrefi e responsável pela operação de varejo do PanAmericano.

Sem liquidez, os pequenos e médios tiveram de concentrar sua atuação no que mais conheciam e onde corriam menos riscos. Quem era mais forte em crédito à empresa praticamente paralisou o varejo. Quem era bom de varejo, direcionou as fichas para o consignado.

Numa volta pelo centro velho de São Paulo essa mudança fica clara. O ambiente ainda é o mesmo na região da Rua São Bent a correria dos pedestres, a gritaria dos ambulantes, os pedintes. Tudo se mantém mais ou menos igual há anos, menos os "pastinhas", funcionários das financeiras que ofereciam crédito de forma agressiva aos pedestres. Restam poucos. A maior parte trabalha para empresas que prestam serviços aos bancos vendendo consignado. "À medida que a população se bancariza e os varejistas oferecem crédito nas lojas, diminui a necessidade de abordagem das pessoas na rua para oferecer empréstimo", diz Fernando Manfio, da consultoria Witrisk.

A oferta mais ostensiva hoje só é feita em órgãos públicos, afirma Edison Costa, dono da promotora de vendas Brascorf e presidente da associação de correspondentes Acfip. Savioli, da Acrefi, lembra que, com a expansão dos cartões de crédito, os empréstimos emergenciais nas financeiras foram substituídos pelos saques do próprio limite do plástico. E linhas mais baratas, como o consignado, crescem na medida em que avançam os convênios com empresas privadas. "Antes, 15% dos empréstimos pessoais eram feitos com aposentados, mas esse público migrou para o consignado."

O que restou do crédito pessoal tradicional está concentrando nas mãos dos grandes bancos em operações de troca de dívida mais cara de seus próprios clientes, especialmente do rotativo do cartão de crédito. Esse é o caso de Lilian Alvarez. Cliente de um cartão do Real, com bandeira Visa, no ano passado ela negociou com a instituição o parcelamento do débito. "No segundo mês de atraso, liguei e eles parcelaram o débito em cinco vezes de R$ 500, baixando juros e cortando a multa". Neste ano, novamente ela recorreu a uma troca de dívida para alongar os prazos por meio de crédito consignado no Itaú.

Lilian tem uma vantagem. Ela conhece bem as finanças por trabalhar numa área de cobrança. Mas os bancos estão se armando para tornar isso cada vez mais automático, com ofertas nos caixas eletrônicos.

 

 

 

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