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Imprensa
Alexandre Tombini ganha espaço no BC e pode substituir Meirelles

Alex Ribeiro, De Brasília
23/06/2008
Alexandre Tombini, diretor de Normas, convenceu o presidente Lula de que essa não é a hora adequada para adotar novas ações, como o controle do crédito

O diretor de Normas do Banco Central, Alexandre Tombini, ganhou visibilidade nas últimas semanas ao discorrer sobre política monetária em reuniões no Congresso e no Palácio do Planalto, reforçando comentários de que substituirá o presidente do BC, Henrique Meirelles, em outubro do próximo ano, quando termina o prazo de filiação de candidatos às eleições de 2010.

Com Meirelles no exterior, Tombini fez uma apresentação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em reunião, na semana passada, com os ministros Guido Mantega (Fazenda), Dilma Roussef (Casa Civil), Reinhold Stephanes (Agricultura), além do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e do senador Aloizio Mercadante (PT-SP).


Tombini mostrou que as medidas tomadas até agora pelo governo ainda não tiveram tempo para surtir efeito sobre a inflação, convencendo o presidente Lula de que essa não é a hora adequada para adotar novas ações, como o controle do crédito.


Uma semana antes, Tombini fez apresentação em seminário sobre política monetária na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, dividindo a mesa com o ex-presidente do BC, Armínio Fraga. Foi bastante elogiado pelo próprio Fraga, que destacou o papel de Tombini, que foi chefe do Departamento de Pesquisas Econômicas (Depep) do BC entre 1999 e 2001, no desenvolvimento dos modelos econométricos e do arcabouço institucional do sistema de metas de inflação.


Meirelles define seu futuro político até outubro de 2009. Ex-presidente mundial do BankBoston, ele foi eleito deputado federal por Goiás pelo PSDB em 2002. Abriu mão do mandato e desfiliou-se do partido para assumir a presidência do BC no ano seguinte. É cotado para disputar o Senado, o governo de Goiás ou até mesmo a presidência da República. Fazer o sucessor na presidência do BC seria uma forma de garantir que o controle da inflação, um dos seus principais patrimônios políticos, seja preservado.


No organograma do BC, Tombini, como diretor de Normas, não é o responsável por falar de política monetária. Ele vota nas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), mas a principal função do diretor de Normas é discutir regulamentos para o sistema financeiro. O diretor de Política Econômica, Mário Mesquita, é o encarregado de desenvolver estudos na área de política monetária e tem um papel central nas reuniões do Copom, apresentando cenários para a evolução da inflação e propostas para mexer na taxa de juros.


Há justificativas para que Tombini, e não Mesquita, tenha representado o BC no Planalto e no Congresso. No dia do debate com os parlamentares, Mesquita e Meirelles estavam em São Paulo, participando de reuniões com economistas de bancos e consultorias, dentro da rotina de preparação do relatório trimestral de inflação.


Essa é considerada uma função central na comunicação institucional do Copom. Tombini fez a apresentação em reunião com Lula na condição de presidente-interino do BC. Os compromissos de Meirelles no exterior foram agendados antes de o Planalto convocar o encontro. Mesquita estava no Canadá.


A Diretoria de Normas não era um destino natural na carreira de Tombini, cuja formação e experiência esteve quase toda ligada a política econômica. Gaúcho, PhD em economia pela Universidade de Illinois e funcionário de carreira do BC, ele entrou na diretoria colegiada em junho de 2005, como titular da área de estudos especiais, substituindo o economista Eduardo Loyo. A Diretoria de Estudos Especiais é uma transição para quem vai comandar a área de política econômica. Mesquita foi diretor de Estudos Especiais antes de substituir o então titular de política econômica, Afonso Bevilaqua.


Tombini deixou a Diretoria de Estudos Especiais depois de desentendimentos com Bevilaqua. Mas essa não teria sido a razão da mudança de cargo. Meirelles convidou Tombini já com o propósito de designá-lo para a área de normas, substituindo Sérgio Darcy. Desde o princípio, ficaria na diretoria de estudos especiais apenas por um período de transição. Técnicos da área de normas dizem que, apesar de Tombini não ter conhecimentos profundos sobre regulação, sua visão econômica fez a diferença.


Na Diretoria de Normas, Tombini abriu canal direto com o Ministério da Fazenda, especialmente com o secretário de Acompanhamento Econômico, Nelson Barbosa. Juntos, elaboraram medidas para disciplinar as tarifas bancárias e ampliar a competição no sistema financeiro. Em tese, a função de Barbosa na Fazenda é cuidar da defesa da concorrência, mas na prática ele é um dos assessores mais próximos de Guido Mantega para assuntos econômicos - e um dos principais críticos das políticas cambial e monetária.


A aproximação foi facilitada pelo fato de, na Fazenda, Tombini ser visto como menos conservador do que os demais membros do Copom. Acredita-se que Tombini foi um dos que lideraram o movimento dentro do Copom para acelerar o ritmo de corte de juros no ano passado, com a tese de que a expansão dos investimentos e o aumento da importações contribuiriam para conter as pressões inflacionárias.


A reputação de ser menos conservador foi alimentada por um texto para discussão feito por Tombini ("O recente processo de desinflação no Brasil e seus custos", junto com o economista Sergio Lago Alves, publicado em junho de 2006), em que ele mostra que os custos para controlar a inflação, em termos de redução do crescimento econômico e aumento do desemprego, tornaram-se menores nos últimos anos. Na leitura de analistas econômicos, Tombini mostra, no texto, que a economia é capaz de crescer mais e ter juros menores sem acelerar a inflação.

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