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Imprensa
CONSIGNADO ATINGE A MATURIDADE

jornal Valor Econômico 12/06/2008 - Fernando Travaglini

O crédito consignado parece ter atingido a maturidade e começa a apresentar taxas de crescimento similares a outras linhas. Nos últimos 12 meses, os empréstimos em consignação avançaram 29%, inferior aos 34% do crédito total para pessoas físicas. Parte disso se deve ao nível de endividamento crescente da população, mas mudanças operacionais também dificultaram a oferta nos últimos meses.

O consignado, ao lado do financiamento de veículos, foi o responsável pela atual momento de expansão do crédito. Criado em 2004, a linha, cujas prestações são descontadas diretamente na folha de pagamento, avança a uma taxa média de 56% nos últimos anos. Nesse período, o crédito à pessoa física cresceu cerca de 25% ao ano.

O forte crescimento foi puxado por uma enorme demanda reprimida, somada à entrada no sistema de novos clientes das classes mais baixas, especialmente aposentados e pensionistas do INSS.

A desaceleração registrada nos últimos meses se deve em parte à própria limitação de demanda desse público potencial. Boa parte dos empréstimos é feita para beneficiários do INSS e este nicho está próximo da saturação.

Hoje entre 40% e 45% dessa população está endividada, afirma Renato Oliva, vice-presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC). O patamar é superior ao padrão do mercado brasileiro. Em geral, o nível de penetração do crédito em uma determinada população é de 30% a 35%. "Ainda há possibilidade de crescimento, mas um crescimento vinculado aos clientes que entram no sistema, como os novos aposentados".

Jane Cesar, superintendente do Banco Mercantil do Brasil, pondera que este nicho ainda não chegou ao limite, mas que de fato o crescimento agora será menos explosivo. "No momento em que se atinge o ponto de equilibro, não se tem mais tanta operação nova. Mas o produto continua sua expansão, principalmente com a renovação do crédito já concedido", afirma.

Neste início do ano, o consignado também passou por dificuldades operacionais, devido a uma série de alterações na regulação dos empréstimos para beneficiários do INSS, afirma Ricardo Gelbaum, diretor-executivo financeiro do Banco BMG.

O ministério da Previdência Social chegou a interromper a concessão por uma semana para ajustes do sistema em janeiro. Depois, preocupado com o nível de endividamento do aposentado, reduziu o limite máximo de 30% para 20% do benefício recebido. Alongou ainda os prazos máximos de financiamento de 36 para 60 meses, com o objetivo de reduzir a prestação. No fim do mês passado, o ministério soltou mais uma série de alterações, como o limite do endividamento no cartão de crédito em duas vezes o valor do benefício e o máximo de seis contratos ativos por cliente.

Essas mudanças provocaram inclusive uma migração para o crédito pessoal tradicional. A linha, que chegou a apresentar crescimento próximo a zero em meados de 2007, avançou 28% nos últimos 12 meses. A modalidade tem taxas de juros médias quase duas vezes maior que o consignado (27,4% ao ano contra 65,9% ao ano, em abril de 2008).

"Houve mudanças no consignado que necessitam de divulgação para clientes e ajustes tecnológicos. Enquanto se adaptam produto e tecnologia, sobe-se a oferta do crédito tradicional", disse Gelbaum, do BMG.

Há também uma preocupação com o comprometimento de renda da população de mais baixa renda, público alvo do consignado e que até recentemente não estava bancarizada, afirma Carlos Alberto Ercolin, diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

Entre os 14,5 milhões de operações ativas no INSS, quase 60% são para aposentados e pensionistas com renda até um salário mínimo e com empréstimo médio de R$ 1,16 mil. Outros 24% dos créditos atendem beneficiários com renda entre um e três salários e empréstimo médio de R$ 1,7 mil. Por fim, 16% atendem pessoas com renda acima de três salários, com valores médios de empréstimos de R$ 2,9 mil. O prazo médio é de 31 meses.

A aceleração das taxas de inflação tem comprometido de forma mais perversa a renda da população mais pobre. Com isso, pode haver uma certa pressão na inadimplência. Érico Ferreira, presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), afirma que é até "provável" que isso ocorra, mas por enquanto ainda não há sinais concretos. Porém, "algumas instituições já se tornaram mais exigentes, elevando a nota de corte do sistema de avaliação de crédito".

Ademir Cossiello, diretor-executivo do Bradesco, afirma que de fato o crédito cresceu mais do que a renda. Mas o avanço dos empréstimos se deu com a ampliação dos prazo, o que permitiu uma tomada maior de recursos com prestações adequadas à renda. Essa relação, por enquanto, está equilibrada. "Claro que as pessoas acabam perdendo renda com a inflação. E logicamente isso afeta o crédito. Mas quando se pondera a taxa e o prazo, a relação está equilibrada".

Oliva ainda disse que o brasileiro, de modo geral, é bastante precavido na decisão do crédito. "A preocupação sempre existe, mas ainda é baixa porque o nível de endividamento do brasileiro é baixo, seja em relação ao PIB, seja em relação à renda per capta. E com a alta dos juros, vai aumentar ainda mais a postura conservadora", afirma o executivo da ABBC. O crédito ao consumo corresponde a 12,3% do PIB.

A inadimplência também está em patamares controlados, ao redor de 7% para a pessoa física desde o início do ano passado. Mas o próprio aumento do crédito pessoal tradicional pode alterar esse padrão. As linhas tradicionais (sem consignado) têm taxa de atraso (acima de 90 dias) de 13,7%. Incluindo a linha com desconto em folha, o índice cai para 5,2%, segundo levantamento da consultoria Accenture.

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