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De olho na ampliação do crédito à pessoa jurídica, bancos privados e públicos estão se aproximando este ano de hospitais conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS). O objetivo é expandir uma modalidade de crédito por consignação que antecipa os recebíveis do faturamento dessas entidades a taxas mais baratas que a do capital de giro.
A Caixa Econômica Federal (CEF) prevê emprestar R$ 580 milhões em 2008, em um total de 400 operações. O BicBanco, especializado em middle market (empréstimo a médias empresas), antevê bom ano para essas operações, que são atraentes por terem risco próximo de zero. Já o Banrisul destinará outros R$ 37 milhões à carteira de saúde.
Em 2007, a Caixa realizou 398 empréstimos a instituições do setor, que movimentaram R$ 551 milhões. O produto Caixa Hospitais, criado em 1998, é destinado apenas a hospitais e casas filantrópicas conveniadas ao SUS. Com prazos de até 60 meses e taxas variando de 1,20% a 1,55% ao mês, a modalidade ajudou o banco a impulsionar o crescimento de sua carteira de crédito à pessoa jurídica, que somou R$ 18,4 bilhões até setembro de 2007, alta de 9,5% sobre 2006.
"A vantagem desse crédito é que ele tem risco praticamente zero. De todas as operações que realizamos até hoje, só tivemos problemas com uma Santa Casa que fechou", afirma Jaira Maria Puppim, gerente nacional de políticas sociais da Caixa. Apesar do nome da área que gerencia, Puppim explica que não se trata de caridade. "São operações perfeitamente rentáveis para o banco".
O hospital conveniado ao SUS tem permissão do Ministério da Saúde para antecipar até 30% da média mensal de seu faturamento a um limite de 10 faturamentos financiados. As parcelas são pagas pelo próprio Ministério da Saúde, que desconta o montante do próximo faturamento da entidade de saúde. Atualmente, além de Caixa e BicBanco, em torno de 20 instituições financeiras já oferecem o empréstimo, como Banco do Brasil, Industrial e Mercantil do Brasil. Nossa Caixa e Banrisul têm programas semelhantes, mas circunscritos aos estados em que atuam. Em todos os casos, a operação só é aprovada mediante anuência das secretarias municipais e estaduais de saúde.
Normalmente, as instituições utilizam os recursos como capital de giro para a empresa, para a aquisição de leitos, realização de pequenas reformas e pagamento do 13º salário aos funcionários. Puppim, da Caixa, explica que a instituição prevê ainda criar uma nova modalidade neste ano: o Caixa Hospital Investimento, que seria utilizado para gastos maiores, como construção de novas unidades e compra de equipamentos. "A vantagem, para o hospital, são as taxas menores, os prazos mais longos e a ausência de burocracia", completa.
BicBanco
O BicBanco realizou 380 operações de crédito a hospitais e Santas Casas conveniadas ao SUS em 2007, que totalizaram R$ 304 milhões. O volume equivale a 4% da carteira de crédito total do banco, que somou R$ 7,6 bilhões em 2007, crescimento de 71,8% sobre 2006. A instituição não estabelece metas de expansão em 2008, mas Milton Bardini, vice-presidente, salienta que a modalidade - criada em 2006 - deverá continuar crescendo. "É uma operação com estrutura garantida porque tem a formatação de um empréstimo consignado", afirmou. Segundo ele, o que atraiu o BicBanco foi justamente a qualidade do crédito, de baixíssimo risco. "Com certeza, a operação contribuiu para o aumento da carteira de pessoa jurídica no ano passado", completou o executivo.
A Nossa Caixa também fechou em dezembro do ano passado parceria com o governo do Estado de São Paulo para financiar até R$ 100 milhões a hospitais filantrópicos e Santas Casas conveniadas com o Sistema Único de Saúde (SUS-SP). Cada entidade pode tomar até R$ 5 milhões de empréstimo e pagar a dívida em um prazo de até 36 meses, com taxas a 1,89% ao mês, inferior à cobrada em capital de giro, cujos juros variam de 2% a 4% ao mês. A previsão do banco é de que, em 2008, sejam realizadas operações envolvendo ao menos 400 entidades. A Nossa Caixa exige que as instituições apresentem projetos específicos para os quais deverão destinar os recursos.
O Banrisul, por sua vez, informou já ter financiado até o final do ano passado R$ 63 milhões com seu Programa Modernização e Revitalização de Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Rio Grande do Sul. O banco destinará outros R$ 37 milhões para a modalidade este ano, com 144 entidades. Implementado em junho do ano passado, o projeto pretende modernizar o atendimento e o acesso a hospitais, clínicas e laboratórios do estado. Os recursos são do próprio Banrisul e podem ser utilizados por instituições públicas e privadas que sejam credenciadas ao Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul (IPE), ao SUS, ou à Caixa de Assistência dos Empregados do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Cabergs).
Segundo Urbano Schmitt, diretor de crédito do banco, os recebíveis de faturamento são utilizados como garantia, sendo que cada entidade pode comprometer apenas 20% dos recursos. Os prazos variam de 36 a 48 meses. "Decidimos lançar o crédito porque esses hospitais têm muita dificuldade de ter acesso ao crédito", diz.
O ABN Amro Real e o Bradesco também se envolveram em iniciativas semelhantes, mas por meio de repasses do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O banco de fomento aprovou em março do ano passado financiamento de R$ 46,1 milhões para a Fundação São Paulo (Fundasp). Os recursos foram destinados à reestruturação do endividamento bancário no Programa de Fortalecimento e Modernização das Entidades Filantrópicas do SUS. O ABN Amro Real informou que o setor médico-hospitalar representa aproximadamente 8% da carteira de clientes total da pessoa jurídica de pequeno e médio porte do banco. Essa carteira atingiu saldo de R$ 28 bilhões até setembro do ano passado, segundo balanço da instituição.
De olho na ampliação do crédito à pessoa jurídica, bancos privados e públicos como Caixa Econômica Federal, BicBanco e Banrisul estão se aproximando de hospitais conveniados ao Sistema Único de Saúde. |
