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Imprensa
Crise já pressiona os juros do crédito

jornal Valor Econômico 28/08/2007 - Fernando Travaglini, Marli Olmos e Claudia Facchini

A recente turbulência nos mercados internacionais começa a dar os primeiros sinais de impacto direto no Brasil. Dados do Banco Central, referentes ao crédito nos primeiros onze dias úteis de agosto, indicam que a crise elevou o custo de captação para os bancos e as taxas de juros dos empréstimos interromperam a tendência de queda, ficando estáveis em 35,9% ao ano.

O economista da MB Associados, José Roberto Mendonça de Barros, já havia dito em artigo na última quinta-feira no Valor que o custo do crédito ao consumidor subiu em conseqüência da crise internacional e os prazos dos financiamentos serão reduzidos. "Financiamento de carros por sete, oito anos, não mais", diz ele.

Os bancos ainda estão reticentes em relação ao desenrolar da crise e a elevação dos juros por não saber se a turbulência irá continuar. Segundo o diretor-executivo do HSBC, Paulo Maia, de fato os juros futuros registrados na BM&F, que servem de base para os financiamentos, subiram nas últimas semanas por conta da crise no mercado de hipotecas americano. Ele diz ainda que no interbancário as taxas também tiveram elevação. "Isso pode ter impacto no curto prazo nas operações mais longas, como financiamento de veículos."

As taxas do swap de um ano, que começaram o mês em 11,02%, atingiram 11,84% no dia 15 e fecharam em 11,45% ao ano, ontem. Ele pondera, no entanto, que ainda é cedo para saber como isso se desenvolverá e se realmente os prazos e taxas serão afetados. "Acredito e espero que o mercado de crédito brasileiro não tenha problemas", completa o executivo.

O diretor comercial do Banco GMAC, ligado à General Motors, Gunnar Murillo, disse que a pressão nos custos dos financiamentos é real e que muitos bancos que não são ligados à montadoras "já recolheram tabelas e estão com outro patamar" de taxas. Mas ele ressalta que essa elevação ainda é pequena para que o consumidor reduza o apetite por veículos, até porque o consumidor está mais preocupado com a prestação do que com os juros.

"As taxas, que no início do ano passado estavam perto de 2%, chegaram a patamares entre 1% e 1,5% ao mês. Agora, muitos bancos recuaram para taxas que eram praticadas de três a cinco meses atrás, ou seja, a elevação não foi tão grande, tendo pouco impacto na prestação", diz Murillo. Nos prazos dos empréstimos ainda não houve mudanças.

O consumidor nem percebeu, mas o custo do crédito para automóveis subiu no último final de semana. Concessionários e vendedores de grandes pontos de venda autorizados e do paralelo confirmam que alguns bancos elevaram as taxas de juros entre 5% e 15%, principalmente para planos de 36 e 48 meses.

Muitos avaliam a medida como conseqüência do "susto da crise", já que uma parte das instituições já acenou com índices mais baixos a partir desta semana.

Setor em que a concorrência é acirrada, os concessionários de veículos que vendem modelos novos consultados preferem não falar publicamente.

Entre as concessionárias, uma conta que recebeu no final da semana tabelas com taxas de juros até 0,20 ponto percentual mais altas, o que elevou o índice de financiamento de carro novo para índices próximos de 1,40%. O diretor de outra revenda autorizada conta que a taxa média subiu de 1,20% para 1,25% para os planos de 48 meses.

Mas o consumidor não se inibiu. A maior parte das revendas registrou movimento melhor do que no fim-de-semana anterior. De maneira geral, as vendas de carros acumuladas este ano mostram avanço de 26% e os profissionais de vendas atribuem ao crédito o motivo do crescimento.

Segundo um concessionário do interior de São Paulo, 80% das suas vendas estão sendo feitas com planos que variam de 60 a 72 meses. Um vendedor notou um ligeiro aumento de vendas à vista. Numa loja do Paraná, o gerente avisou que o quadro de juros mais altos começou a se reverter já ontem.

O segmento de carros usados também sentiu o impacto. "A promoção que o Santander estava fazendo com juros de 0,99% para carros seminovos desapareceu na semana passada", conta Munir Faraj, da Trans-Am Faraj, uma loja na região Norte de São Paulo.

Segundo ele, a taxa antes promocional subiu para 1,18%. "Mas isso deve mudar em questão de horas; os bancos já estão preparando taxas menores", avisa.

Já os bancos de montadoras ainda não mexeram nas tabelas por uma decisão estratégica para não prejudicar as vendas de veículos. Em geral, a política do banco está em linha com a da fábrica, mesmo nos casos em que as margens do financiamento ficam ligeiramente comprometida. Como a "pressão não é tão grande, ainda podemos agüentar", explica Murillo. A Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef) não quis se manifestar antes de fazer uma reunião com os associados, já que os eventos são muito recentes.

A pressão não se restringe ao segmento de veículos, diz o presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Érico Ferreira. "Os juros da BM&F, que subiram 1% em quinze dias, são referenciais de taxas para financiamentos e as turbulências externas e as saídas de capital reverteram a tendência de queda dessas taxas vistas ao longo do ano", explica.

Ele disse que o mercado ainda vai esperar umas duas semanas antes de tomar decisões, mas ele não descarta um "possível" aumento das taxas se as turbulências se mantiverem.

Nas lojas ainda não há sinais de mudança. As varejistas, como o Carrefour e a Casas Bahia, não mexeram nas suas taxas de juro. Como muitos dos planos oferecidos são promocionais, as taxas de juros e os prazos estão atrelados à estratégia de marketing das redes. O Carrefour, por exemplo, mantém parcelamentos em até 25 vezes com juros 1,99% ao mês. O plano faz parte dos esforços da rede para elevar a sua base de cartão de crédito, que deve crescer 15% e atingir 7 milhões este ano.

Além dos concorrentes habituais, as varejistas agora precisam disputar o orçamento do consumidor com o mercado de automóveis e o mercado imobiliários, dois setores que tiveram um "boom" nas vendas. "O cobertor é curto", afirma o presidente do Banco Carrefour no Brasil, Caíque Melo. Nem os juros no crédito rotativo do cartão Carrefour foram alteradas. Continuam em 12,90%.

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