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Imprensa
Crédito cresce 27%; Ganho bruto avança só 9%

jornal DCI 22/02/2007 - Fernando Travaglini

Os bancos começam a mudar a estratégia para expansão do crédito. A seletividade na concessão de empréstimos deve ser o foco das instituições em 2007. Isso porque o aumento da inadimplência e a queda nas taxas de juros têm reduzido as margens de receita nos últimos trimestres.

Levantamento do DCI com os cinco maiores bancos que já divulgaram os balanços mostra que apesar de o crédito ter mantido o crescimento dos anos anteriores, em 26,9%; de 2005 para 2006, o resultado bruto, descontando as despesas com débitos duvidosos (PDD) avançou apenas 9,5%.

Isso significa que ao mesmo tempo em que os bancos ampliaram os ganhos com concessão de empréstimos e aumentaram a margem financeira em 20,4%, as despesas com PDD explodiram 71,1%, o que provocou uma desaceleração nos ganhos.

Durante a divulgação dos resultados de 2006, os bancos já demonstraram confiança na queda da inadimplência para este ano, seguindo tendência observada no quarto trimestre.


De acordo com dados do Banco Central, nos últimos três meses do ano passado o crédito cresceu duas vezes mais do que as operações em atraso. Já o índice de inadimplência, que nos meses de abril e maio do ano passado chegaram aos 4%, fecharam o ano em 3,7% da carteira total.

Para o presidente do Itaú, Roberto Setubal, essa tendência de queda deve se manter devido à perspectiva positiva para o cenário econômico, com aumento de renda e uma disposição maior das instituições para selecionar ainda mais os credores para concessão de crédito. Durante a coletiva de divulgação de resultados, Setubal foi enfático: “estamos mais seletivos para a concessão de crédito”.

Com isso, a expectativa para este ano é de ampliação das margens e do resultado. Segundo o analista da Austin Ratings, Rodrigo Indiani, o crescimento do crédito foi pouco explorado pelos bancos no passado, levando o País a ter um dos piores indicadores de crédito em relação ao PIB.

Para ele, a redução da Selic deve pressionar os bancos para expandir as carteiras e canalizar as aplicações para concessão de crédito. O percentual do crédito em relação ao PIB bateu 34,3% no ano passado, o maior nível desde abril de 1996 (34,4%). Segundo dados da Austin, apesar da evolução, o nível ainda está muito abaixo da média dos países emergentes, que é de 48% do PIB e bem abaixo da média mundial, 149%.

Ainda de acordo com dados da Austin, baseado em levantamento do Banco Central, o nível médio de inadimplência subiu para 4,8%, em 2006, em relação aos 3,8% de 2005 e dos 3,9% de 2004. A taxa do ano passado é o maior nível já observado desde 2000.

O crescimento reflete, no entanto, a expansão do número de tomadores do que dificuldades em honrar os compromissos, afirma a Austin em relatório. “Por exemplo, entre o ano 2000 e 2006, o volume de crédito cresceu 156,4%, média de 14,6% ao ano, enquanto que a taxa de inadimplência recuou 0,9% no mesmo período”, afirma o texto.

Unibanco na frente

O efeito foi menos sentido no Unibanco. A estratégia do banco foi frear a expansão do crédito desde o início do ano passado para que o segmento fosse mais rentável. Segundo o diretor da instituição, Geraldo Travaglia, a mudança surtiu efeito positivo. “Desde o final de 2005, nos antecipamos ao mercado devido à percepção de que a inadimplência iria aumentar e adotamos uma política mais conservadora”, explicou o executivo.

De acordo com a analista da Fator Corretora, Maria Laura Pessoa, as despesas de provisões do banco vieram abaixo das estimativas feitas pela corretora. Segundo relatório da analista, a “excelente notícia veio da inadimplência, que melhorou para 7,7%, no quarto trimestre de 2006, em relação aos 8,1% do terceiro trimestre, fruto da adoção de política mais restritiva na concessão de crédito da operação de varejo”.

A carteira de crédito total encerrou o ano em R$ 45,36 bilhões, apresentando menor crescimento entre os grandes — apenas 13,8% —, ao mesmo tempo que a inadimplência também avançou menos e exigiu menos provisão, que subiu 27,2%.

Com isso, o Unibanco conseguiu um aumento no resultado bruto de 16,5%. Além disso, foi o único que conseguiu manter praticamente estável a relação entre PDD e Margem Financeira, que subiu de 23,3% para 24,9%.

Já o Itaú apresentou a maior elevação nas despesas de PDD, de 94,7%, fechando o ano em R$ 5,5 bilhões. Ao mesmo tempo, a instituição teve a maior ampliação na margem financeira, que subiu 29%, passando de R$ 14 bilhões em 2005 para R$ 18 bilhões em 2006. Com isso, conseguiu a segunda melhor alta do resultado bruto, de 12,3%, registrando R$ 12,5 bilhões.

O banco, no entanto, teve boa parte dos ganhos vindos da aquisição das operações do BankBoston no Brasil. A carteira avançou 38,2% no ano, mas descontando a aquisição do BKB, o crescimento seria de 24,7%.

Já o Bradesco, que possui a maior carteira de crédito, teve uma melhora pequena no resultado, de 8,2%, atingindo R$ 16 bilhões.

Ao contrário de Itaú e Unibanco, os índices de inadimplência do Bradesco continuaram em alta durante o último trimestre do ano passado, em 4,5%, em relação aos 3,3% no final de 2005.

O maior aumento aconteceu no segmento de pessoa física, no qual os pagamentos em atraso há mais de 60 dias subiram de 5,4%, para 7,6%. A margem financeira fechou o ano em R$ 20,3 bilhões e as despesas com PDD, em R$ 4,4 bilhões.

O estrangeiro ABN Amro Real, cuja carteira cresceu 25,6%, teve aumento do resultado bruto de 12,3%. A melhora ocorreu com avanço da margem financeira de 22,4%, chegando a R$ 9,7 bilhões, e elevação de 66,7% das despesas de PDD, que fecharam 2006 em R$ 2,5 bilhões.

Por outro lado, quem mais sofreu foi o Santander Banespa. O banco expandiu a carteira de crédito em 29,3%, mas com uma margem financeira de R$ 7 bilhões, com alta de apenas 7,7% em relação ao ano passado, teve uma redução do resultado bruto de 3,7%, que caiu de R$ 5,6 bilhões para R$ 5,4 bilhões. No mesmo período, as despesas com PDD avançaram 86,1%, atingindo R$ 1,5 bilhão.

Novas aquisições

Um ponto a ser observado vai ser o impacto das aquisições dos bancos pequenos e médios pelos grandes, como aconteceu no início do ano com a compra do BMC pelo Bradesco. Esses bancos trabalham com créditos consignados, com descontos em folha de pagamento. Com isso, a inadimplência na carteira de pessoas físicas, geralmente maiores do que a média dos bancos, pode sofre uma redução.

Conforme lembrou relatório da Austin Ratings do início do mês, “com a expectativa de continuidade de queda da taxa de juros e do fortalecimento da renda real e do nível de emprego, espera-se que haja acirramento ainda maior entre as instituições financeiras, no que diz respeito ao crescimento da carteira de crédito, estimulando tanto as fusões e aquisições nesse segmento como, principalmente, ampliando as opções de crédito com custos cada vez mais reduzidos”.

Outra fonte de receitas para os grande bancos que pode sofrer impacto é a compra de carteiras de crédito consignado dos bancos médios. Com a facilidade cada vez maior de captação tanto no exterior quanto no mercado local, os bancos médios têm conseguido taxas mais atrativas do que as pagas pelos outros grandes.

O Bradesco, por exemplo, registrou uma queda na aquisição de carteiras de crédito de bancos médios, de 9,4%. Segundo o próprio banco, está mais difícil adquirir essas carteiras. O Itaú conseguiu manter essas compras devido a um acordo com o BMG.

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