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Imprensa
Queda da confiança afetou pouco economia real

Embora as denúncias envolvendo o presidente Michel Temer tenham ameaçado o quadro de expectativas de melhora mais acelerada da economia sustentado até meados de maio, os efeitos concretos desse quadro sobre emprego, consumo e investimento devem acontecer apenas se o quadro de incerteza se prolongar. Ainda que todos os indicadores de confiança de junho tenham refletido o choque inicial causado pela delação da JBS, os indicadores de atividade já conhecidos do mês revelam sinais mistos e os relatos de empresas e analistas sugerem que, após o "susto", persistiu a expectativa de melhora em relação a 2016.

 

Além disso, na visão de alguns economistas, novos fatores que começam a surgir no horizonte poderiam reverter o quadro. Um desses novos fatos, uma queda mais forte do juro, ganhou fôlego na sexta-feira passada, com a deflação ainda mais forte do que o esperado na inflação oficial. Outro cenário que também ganhou mais corpo na semana passada é a possível saída de Michel Temer da presidência, para dar lugar ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o que poderia resgatar uma esperança maior de viabilidade das reformas.

 

O fato de a crise política não ter inviabilizado a continuidade do ciclo de afrouxamento monetário e a eventual troca de Temer por Maia podem reverter a queda da confiança registrada em junho, amenizando seus efeitos sobre a atividade econômica, avalia a LCA Consultores.

 

Bráulio Borges, economista-chefe da consultoria, destaca que o comportamento da atividade em junho dá sinais distintos. As vendas de veículos, divulgadas pela Fenabrave, vieram melhores em junho, em relação a maio, considerado o dado dessazonalizado. Por outro lado, a produção de veículos caiu na passagem de maio a junho, segundo a Anfavea, mas também não de maneira expressiva. Produção e consumo de energia andaram de lado, avalia a LCA, enquanto os indicadores de confiança tiveram uma queda "razoável", à exceção da confiança da construção.

 

Olhando ainda para indicadores do mercado financeiro, como risco e câmbio, que afetam a confiança dos consumidores, Borges ressalta que, num primeiro momento, esses ativos tiveram uma alta acentuada, mas depois se acomodaram num nível mais contido. "É fato que o choque político foi liquidamente negativo, tanto que as projeções de crescimento foram revistas para baixo neste ano e, principalmente, no ano que vem, mas não foi um choque tão expressivo como outros", disse Borges, citando como exemplo o choque de confiança de meados de 2015, quando o governo anunciou a meta fiscal com déficit primário para o ano seguinte.

 

Nesse cenário, o economista acredita que o PIB do segundo trimestre pode até ter crescido cerca de 0,1% ou 0,2% na margem, no dado dessazonalizado, posto que abril e maio foram anteriores ao choque, com maio surpreendendo na produção industrial, por exemplo, enquanto junho parece ter sido misto

 

Para o economista da LCA, pode ser que o efeito da queda de confiança verificada em junho mostre reflexos na economia mais adiante, devido à defasagem deste tipo de indicador, mas há dois fatores que jogam em sentido contrário, podendo anular a pressão negativa

 

O primeiro deles é o fato da crise política não ter inviabilizado a continuidade da redução da taxa básica de juros pelo Banco Central. "Como o Banco Central tem espaço para continuar cortando a Selic e fazendo isso rapidamente, isso tem impacto positivo sobre a confiança", diz Borges. O segundo fator é uma possível nova transição política. "Toda discussão hoje é que, aparentemente, o Temer caiu e o Rodrigo Maia assume, embora o momento em que isso vai ocorrer seja incerto", afirma. "Isso pode trazer um novo choque de confiança nos mercados financeiros, porque existe a avaliação de que Rodrigo Maia pode ter condições políticas de retomar uma agenda mínima de reforma da Previdência, algo que hoje, com Temer na presidência, parece estar totalmente descartado", completa.


Assim, a combinação dos dois efeitos poderia fazer com que o choque de confiança observado em junho possa ser revertido já ao longo do terceiro trimestre. "Teria sido mais um soluço do que uma inflexão de trajetória
desses indicadores, que vinham melhorando até então", conclui.


Para Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores, a economia real praticamente ignorou a crise política devido à confiança dos agentes econômicos de que a classe política deve eventualmente enfrentar a questão fiscal. Mas essa situação não deve durar por tempo indefinido e pode mudar dependendo do desenvolvimento das eleições de 2018.


"O lado real da economia deu de ombros para a crise política", afirma Silveira, à luz dos indicadores iniciais de atividade de junho. Segundo ele, isso acontece porque algumas variáveis importantes seguem sob controle, como a taxa de câmbio relativamente estável, a inflação que segue baixa e o saldo comercial positivo. No entanto, a situação das contas públicas é "apavorante", mas os ânimos continuam sob controle porque os agentes ainda confiam que os atores políticos, em algum momento, vão tratar dessa questão.

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