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Imprensa
Brasil vai contra a realidade ao insistir em juros altos, diz Lara Resende

O Brasil está há mais de 20 anos, desde o Plano Real, com uma taxa de juros absurdamente alta, que causa perplexidade a todo mundo, mas economistas e gestores públicos continuam insistindo nisso, afirmou nesta terça­feira (27) o economista André Lara Resende, ex­diretor do Banco Central e um dos formuladores do Plano Real.


"É aquela coisa da loucura: vamos insistir porque o que deve estar errado é a realidade e não a teoria. Teoria, não, regra de bolso", disse, durante debate sobre o seu novo livro "Juros, Moeda e Ortodoxia", no Insper.


No livro, o economista defende que os juros nominais podem ser sinalizadores importantes da inflação, conclusão que contratira a visão ortodoxa que enxerga os juros altos justamente como principal instrumento de combate aos preços altos. A obra tem causado discussões acaloradas e atraído muitas críticas.

 

Para Lara Resende, muitos economistas, quando vão fazer política pública ou política monetária param de pensar e passam a usar "regra de bolso."

 

Contando o caso de uma entrevista que deu recentemente, em que foi lembrado que juros mais baixos levaram à maior inflação alcançada nos últimos anos, durante o governo de Dilma Rousseff, Lara Resende disse que as pessoas se agarram a "raciocínios simplistas como se milhares de outras coisas não acontecessem simultaneamente."


"Já estávamos com recessão há dois anos e meio, 14% de desemprego, colapso no investimento, a economia completamente afundada e a inflação fixa. E se diz que a inflação caiu agora porque o juro subiu", disse ele, com ar de perplexidade.


Quando o atual presidente do Banco Central assumiu, afirmou, ele subiu um pouco os juros para, ato contínuo, começar a derrubá­lo. Segundo ele, é comum se assumir que a política do Banco Central derrubou a inflação. "Não estou dizendo que foi ou não. Mas isso não é passível de ser dito no olhômetro".


As duras críticas não foram feitas apenas aos juros elevados e à visão ortodoxa da política monetária. Diante de um auditório lotado por estudantes e também por figuras emblemáticas no meio, como o banqueiro Fernão Bracher e o ex­ministro da Fazenda, Pedro Malan, Lara Resende não poupou o que chamou de "matematização excessiva" da macroeconomia.

 

"Macroeconomia hoje é uma brincadeira perigosa porque as pessoas usam a formalização [matemática] como espécie de legitimidade a opções políticas e dizem: 'não venha discutir comigo porque você não entende'".


E seguiu dizendo que "nada tem mais capacidade de impostura como um quadro cheio de equações."


Segundo ele, a barreira da matemática é usada para evitar discussões. "E quem sabe fala, 'não vou trair a
classe'".


Presentes ao debate, o presidente do Insper e colunista da Folha, Marcos Lisboa, e o economista e também colunista Samuel Pessôa apontaram o que sentiram falta no livro.

 

Para Lisboa, a discussão seria mais empírica, ou seja, mais focada no que se aplica ao comportamento da taxa de

juros e da inflação no caso específico, por exemplo, do Brasil.


Na mesma linha, Pessôa disse que, do ponto de vista empírico, há suporte sólido do modelo econômico tradicional, sem motivos para abandoná­lo.


Mas há uma concordância geral, disse Lisboa, de que o grande nó da política econômica é a questão fiscal.

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