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Imprensa
Bancos públicos sustentam 56,5% do mercado em março

Os bancos públicos estão segurando o crédito no país praticamente sozinhos, segundo relatório divulgado na quinta-feira pelo Banco Central (BC). Com a retração da economia, o desemprego em alta e o risco de calote, o saldo total dos empréstimos na economia caiu 1,8% no primeiro trimestre deste ano, empurrado principalmente pelos bancos privados. Ainda assim, a participação das instituições federais no mercado atingiu nível recorde de 56,5% em março de 2016, ante uma fatia de 53,8% em dezembro de 2014. Em dezembro de 2013, essa fatia era de 51,3%. Para especialistas, este movimento exige cautela, porque a inadimplência tende a crescer nos próximos meses, e quem empresta mais poderá ter dificuldades para receber.

 

Embora a taxa de inadimplência para atrasos acima de 90 dias para pessoas físicas tenha se mantido estável em 6,2% em março, os dados referentes a atrasos menores (entre 15 e 90 dias) subiram de 5,4% para 5,7% em março.

 

Para os analistas, os calotes só não cresceram porque os bancos estão fazendo acordos com seus clientes. O volume das renegociações em março subiu 20%, segundo dados do BC.

 

O relatório do BC mostra que o saldo de empréstimos nos bancos públicos subiu 6,9% nos últimos 12 meses encerrados em março, considerando valores nominais. Nas instituições privadas, caiu 2,6%, no mesmo período. De acordo com as últimas projeções do BC, o crédito nos bancos federais deve crescer 8% em 2016 e cair 1% nos bancos privados.

 

— Os bancos públicos estão emprestando mais e, neste caso, podem sofrer mais com o aumento da inadimplência. As famílias estão renegociando suas dívidas, mas nem todo mundo vai conseguir cumprir os acordos, num cenário de perda de renda e desemprego — disse o economista Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).

 

TAXA DO CARTÃO DE 449,1%

O aumento da fatia dos bancos públicos no mercado de crédito, na contramão das instituições privadas, é citado em relatório do Goldman Sachs.

 

O economista da consultoria Tendências, João Morais, lembra que os bancos públicos ainda carregam nas carteiras empréstimos concedidos entre 2008 e 2009 e 2011 e 2012, quando foram usados pelo governo para ampliar o acesso ao crédito. Este ímpeto, disse, começou a minguar no ano passado, mas estas instituições ainda lideram no caso dos recursos direcionados, como é o caso da Caixa Econômica Federal (crédito imobiliário) e o BNDES, no financiamento a empresas.

 

— Boa parte do crédito de bancos públicos tem boas garantias, tanto consignado, como imobiliário. Então, não necessariamente isso se traduzirá em mais inadimplência nos públicos do que nos privados. De qualquer forma, a inadimplência está em alta e deve continuar em alta nas próximas leituras — disse a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thais Zara.

 

Para o sócio da Consultoria Goon, Eduardo Tambellini, os bancos que estão aumentando a oferta de crédito neste momento devem garantir um processo de cobrança mais estruturado.

 

As condições do crédito para as famílias pioraram no primeiro trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2015, segundo relatório divulgado nesta quinta-feira pelo Banco Central (BC). Quem ficou pendurado no cheque especial pagou juros de 300,8% ao ano no mês passado — com alta de 6,9 pontos percentuais (pp) na comparação com fevereiro e de 13,8 pp no primeiro trimestre. É a taxa mais alta desde julho de 1994, início do Plano Real.

 

Uma dívida de R$ 5 mil no cheque especial, por exemplo, pulará em um período de 12 meses para R$ 20 mil. Por mês, a taxa média é de 12,26%.

 

No mês passado, a taxa do cartão de crédito no rotativo registrou recorde e alcançou 449,1% ao ano — aumento de 5,2 pp sobre fevereiro e de 17,7 pp no acumulado do ano. Trata-se do custo mais elevado na modalidade da série do BC, iniciada em março de 2011. Com a tendência de encarecimento do cheque especial e do cartão, a taxa média de juros cobrados das famílias chegou a 69,2% ao ano em março, a mais alta dos últimos seis anos.

 

— As famílias devem evitar usar o cheque especial e o cartão de crédito, porque o custo é muito elevado — aconselhou o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, acrescentando que o recomendável é renegociar a dívida e buscar modalidades mais baratas.

 

Mesmo no crédito consignado (com desconto em folha e risco mais baixo), a taxa subiu 0,4 pp entre fevereiro e março, para 29,9% ao ano (alta de 1,1 pp no trimestre). No crédito direto ao consumidor, o percentual bateu 126,1% no mês passado — elevação de 8,4 pp no ano. Já o índice de inadimplência de pessoas físicas permaneceu em 6,2%, considerando recursos que os bancos podem emprestar livremente.

 

Com juros altos e a atividade econômica em retração, o volume total de crédito em circulação na economia ficou em R$ 3,160 trilhões — queda de 0,7% em relação ao mês anterior e 1,8% no primeiro trimestre do ano. Desde 2000, o BC não registrava recuo no volume dos empréstimos nos dois períodos.

 

— Os dados mostram uma desaceleração mais pronunciada no mercado no crédito neste ano — disse Maciel.

Segundo ele, o crédito só voltará a se expandir de forma significativa com a recuperação da economia e retomada da confiança. Neste ano, o BC tem previsão de aumento de 5% no volume total de empréstimos.
 

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