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Imprensa
"É difícil prever estabilidade da nota", diz Fitch


Os fatores que levaram a Fitch a rebaixar o Brasil ao grau especulativo ontem seguem ameaçando a nota e justificam a perspectiva "negativa" para a classificação de crédito soberana, afirmou ao Valor Shelly Shetty, analista de ratings soberanos da agência. Os principais riscos continuam sendo a incerteza política elevada e as chances de a recessão econômica se aprofundar e o quadro fiscal ficar mais deteriorado. "É muito difícil, neste momento, estabilizar o rating no nível 'BB+'", afirmou Shelly.


Em geral, após a perspectiva do rating ser definida como negativa uma decisão sobre a nota é tomada no intervalo de 12 a 24 meses. Shelly disse que esse é o prazo regulamentar, mas lembrou que "o rating do Brasil tem sido bem dinâmico este ano", com dois rebaixamentos em dois meses.


Na avaliação da Fitch, o impasse político no país está dificultando a adoção de medidas fiscais e reformas estruturais e o início do processo de impeachment trouxe ainda mais incerteza a um cenário já conturbado. O resultado desse processo é "difícil de prever", segundo Shelly, mas se resultar na saída da presidente Dilma Rousseff, a Fitch analisará o quadro econômico e fiscal do país naquele momento. Até lá, será importante observar como a situação econômica está sendo afetada. "Como o Brasil vai estar após um possível impeachment é o que importa para nós", disse.


No mercado financeiro, já abalado pelo cenário político conturbado e pela perspectiva de aperto monetário nos Estados Unidos, a notícia não chegou a ter forte impacto já que o rebaixamento era esperado por muitos. "Difícil ficar surpreso com essa decisão", disse o presidente do Itaú BBA, Candido Bracher, em evento do banco ontem. "Estamos demorando muito para resolver nossos problemas."


Ao justificar o corte, a Fitch citou também a retração mais profunda que o esperado da economia. A agência prevê que o PIB feche 2015 com contração de 3,7% e, no ano que vem, a queda seja de 2,5%, com risco de o desempenho ser ainda pior. "Em termos de crescimento, continuamos a ver que a confiança continua deprimida, não vimos nenhuma reviravolta na situação", disse Shelly.


Para o déficit fiscal do governo, um dos indicadores mais acompanhados pelas agências, a projeção é de que supere 10% do PIB agora e fique acima de 7% nos próximos dois anos. Já a dívida do governo deve atingir 70% do PIB em 2016. "As repetidas mudanças na meta fiscal comprometeram a credibilidade da política fiscal", afirmou a Fitch no comunicado.


Minutos após o anúncio da Fitch, o Ministério da Fazenda divulgou nota para afirmar que, juntamente com o governo, está engajado em "atacar os desequilíbrios fiscais existentes, buscando um orçamento para 2016 robusto que proporcione sustentabilidade à dívida pública, confiança ao mercado e tranquilidade às famílias".


No início da tarde, o ministro Joaquim Levy comentou a decisão da Fitch e afirmou que o país não pode entrar em 2016 sem votar reformas essenciais que permitirão suportar o Orçamento. "Em vista do rebaixamento, temos que partir em defesa do Brasil, temos que votar tanto na Câmara quando no Senado", disse. Questionado, Levy não respondeu sobre os rumores de que poderia deixar o cargo.


Se isso acontecer, a Fitch vai concentrar sua análise na orientação política do novo ministro para então avaliar o impacto desse evento no rating, segundo Shelly. "Obviamente acreditamos que o Levy claramente trouxe o debate da consolidação fiscal para o Brasil e instalou confiança no mercado. Mas o resultado até agora em termos de consolidação fiscal é que ainda temos altos déficits. Portanto, a questão fiscal é maior que a permanência ou não de Levy.


Se ele sair, nosso foco seria a orientação política do novo ministro e quais medidas poderia tomar", disse.


Em nota, o Banco Central (BC) disse que o rebaixamento pela Fitch "não altera o sentido ou a intensidade do ajuste macroeconômico em curso, já que demonstra resultados concretos". O BC afirmou que a consolidação fiscal seguirá avançando e disse que prevê importante desinflação em 2016.


A Moody's também se manifestou ontem e disse que o corte na meta fiscal de 2016 diminui a capacidade do governo de entregar superávits primários suficientes para restabelecer os indicadores de dívida nacionais. Samar Maziad, analista sênior de risco soberano da agência afirmou que a redução na meta está "em linha" com as expectativas de piora nas tendências fiscais e macroeconômicas do país. (Colaboraram Eduardo Campos, Fábio Pupo, Vandson Lima e Fernando Taquari)



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