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Imprensa
Mercado espera mais volatilidade


A decisão da Moody's de colocar a nota de crédito do Brasil em revisão para possível rebaixamento não chegou a surpreender o mercado, que já antecipou, em boa parte, a possibilidade de perda do grau de investimento do Brasil por uma segunda agência de classificação de risco, além da S&P. A questão é que a paralisia do ajuste fiscal com o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff deve antecipar esse movimento, e tende a trazer mais volatilidade no curto prazo.


A Moody's informou ontem que colocou a nota do país, que é "Baa3", em revisão para possível rebaixamento. "Nosso cenário já contempla como provável a perda da nota por uma segunda agência no primeiro semestre de 2016. Mas acreditamos que a Fitch fará isso antes da Moody's porque já está com a perspectiva negativa há mais tempo", avalia o economista da Guide Investimentos, Ignacio Crespo Rey.


Para ele, a Moody's deixou explícito que a abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff apenas piora a dinâmica fiscal. "O ambiente piorou muito desde a última revisão da nota brasileira pela Moody's, em agosto. Nesse período, não saiu muita coisa [do ajuste fiscal] do papel, as perspectivas macroeconômicas pioraram e o impeachment colocou o ajuste fiscal em segundo plano."


Rey prevê mais volatilidade nos mercados nas próximas semanas, com a bolsa provavelmente devolvendo hoje parte dos ganhos de ontem. "É muito difícil sustentar uma alta dessas em um cenário assim, de tantas incertezas."


Para a gestora da Coinvalores, Tatiane Pereira, a decisão da Moody's deve esfriar a empolgação vista ontem nos mercados. "A notícia sem dúvida é negativa, pois representa mais uma ameaça à perda do grau de investimento por uma segunda agência de classificação de risco", afirma.


"A questão agora é saber quanto [do risco de perda do grau de investimento por uma segunda agência] o mercado já precificou. Quanto de capital estrangeiro atrelado a essa segunda nota já deixou o país", diz a especialista.


Para o economista-chefe da INVX Global, Eduardo Velho, apesar do desempenho positivo dos mercados ontem, com o fortalecimento da oposição no processo de impeachment, um rebaixamento do rating soberano pode trazer nova pressão de alta para o dólar, com investidores estrangeiros reduzindo a posição em Brasil.


A manutenção do grau de investimento pela Moody's exige um ajuste fiscal em torno de R$ 200 bilhões em um prazo de dois ou três anos, segundo Rafael Bistafa, economista da Rosenberg Associados.


A Moody's destacou ontem que parece ser improvável que o país consiga reverter a deterioração macroeconômica e volte a ter crescimento em torno de 2% e superávit primário da mesma magnitude, o que seria compatível com a estabilidade da dívida bruta.


Para Bistafa, nas condições atuais, sem novas medidas que alterem o crescimento do gasto de forma estrutural, o déficit primário parece ter se estabilizado em torno de 1% do PIB, ou cerca de R$ 70 bilhões. "Para chegar no número da Moody's, o ajuste tem que ser de mais de R$ 200 bilhões, um cenário quase impossível de se concretizar no curto prazo."


Antes da divulgação do relatório, Bistafa já dava como certa a perda do grau de investimento por mais uma agência de classificação de risco. "O mercado já negocia a dívida soberana em dois os três degraus abaixo do selo de bom pagador." A notícia, afirma, não deve gerar forte reação no mercado, com impacto negativo concentrado no curto prazo.


A notícia da revisão da perspectiva da nota do Brasil pela Moody's não chegou a impactar o desempenho dos ativos em segmentos do mercado que ainda não estavam fechados. O contrato futuro de dólar para janeiro de 2016 fechou em queda de 1,30% a R$ 3,77. O mercado à vista de dólar já estava fechado quando a informação foi divulgada.


Os ativos brasileiros negociados em Nova York também não reduziram a alta mesmo após a notícia. Os ADRs (recibos de ações) que representam Petrobras ON fecharam em alta de 5,04%, assim como Itaú (4,86%) e Bradesco (3,20%).


Para o diretor da corretora Mirae, Pablo Spyer, a ausência de reação do mercado à notícia se deve a dois fatos. "A notícia não é tão negativa porque não veio um rebaixamento direto. E a Moody's era a única das três agências que ainda não tinha colocado a nota em perspectiva negativa."


Spyer lembra que a Moody's é, tradicionalmente, mais cautelosa do que a Fitch e a S&P antes de mudar suas avaliações de ratings. "Eles são mais conservadores. Nos deram um 'tempo', para ver como o país resolve a questão fiscal e também a política."


De toda forma, o executivo não acredita que a forte alta observada ontem na bolsa seja sustentável. "Tem muito assunto importante afetando o mercado, como o Fed [Federal Reserve, banco central americano] e a deterioração fiscal, sem falar no imbróglio político."



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