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Imprensa
Crise política paralisa o país, dizem economistas


Solucionar a crise política é essencial para se resolver a situação fiscal e, especialmente para as reformas necessárias que possam garantir um horizonte positivo em relação à evolução da dívida pública e dos gastos do governo. Esse foi um dos pontos em comum entre economistas que participaram ontem de evento sobre política econômica do Brasil e a cobertura da imprensa, promovido pelo Insper, Valor e CDN Comunicação.


"Só há uma solução, em que se readquira os instrumentos políticos para fazer quatro ou cinco mudanças que são fundamentais e que vão mudar a perspectiva da dívida pública", disse o ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto Entre as mudanças necessárias, o economista cita as vinculações de recursos. "Elas tiram o poder do Congresso Nacional e do Executivo. A vinculação é como colocar o país em piloto automático e esperar acabar a gasolina."


O ex-ministro também criticou as indexações salariais. "Elas não fazem o menor sentido. Há uma proposta da CUT que está há três anos na Casa Civil propondo livre negociação entre empresas e trabalhadores, sob vigilância dos sindicatos. Não há nada mais retrógrado no Brasil que a Justiça trabalhista, em que todo trabalhador é hipossuficiente e todo empresário é assaltante.


Nenhuma empresa do Brasil conhece o passivo trabalhista."


Para Delfim, a solução política demanda iniciativa da presidente Dilma Rousseff. "Dizem que ela foi guerrilheira. Ela devia readquirir o espírito guerreiro, apresentar as propostas para o Congresso e ir para a rua tomar panelada, dizer para o sujeito: 'É para salvar o teu neto'", diz o economista.


"Ou então vai embora, se não quiser reassumir o seu protagonismo. Não existe a menor possibilidade quando, com 324 deputados, o governo federal só pode contar apenas com 120. Não tem como fazer a coisa funcionar."


Celso Martone, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), também avalia que há necessidade de iniciativa do governo. A recessão, diz ele, é grande redutora de bem-estar, com efeitos cada vez nocivos à medida que se prolonga. "Em 2009 tivemos recessão curta, de cerca de seis ou nove meses. Ela não deixou marcas, mas essa recessão deixará marcas porque está destruindo muita coisa. Há urgência do aspecto político, ou impeachment, ou saída honrosa, ou retomar iniciativas, mudar ministério... Algo tem que acontecer. Não há proposta em cima da mesa."


Para Marcos Lisboa, diretor presidente do Insper, uma agenda de reformas é essencial para impedir que o gasto público continue crescendo acima do nível de renda do país e leve o país à solvência no futuro. Essas reformas incluem desde mudança no sistema previdenciário até a revisão de políticas de benefícios tributários e de crédito subsidiado. A agenda, diz ele, precisa ser enfrentada e com a adoção de política para proteger os grupos mais vulneráveis.


"O custo da recessão será grande, talvez o maior que uma geração já viu.


Como fazer a agenda das políticas necessárias e proteger grupos vulneráveis?


A transição vai ser difícil e a falta de liderança política nesse processo é particularmente preocupante", disse Lisboa. "Nosso problema não é o déficit primário ou o nível da dívida pública atual porque isso também acontece em outros países. O problema é que o nosso gasto público vai crescer acima do PIB nos anos à frente, a menos que haja reformas."


Sem solução da crise política, a crise econômica deve durar muito tempo, diz José Luiz Oreiro, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para ele, a crise atual é resultado de "irresponsabilidade fiscais" acumuladas nos últimos anos e possibilitada pela alta no preço das commodities e seu efeito positivo na balança de pagamento. O quadro permitiu aceleração do crescimento da economia no governo Lula e a aplicação de políticas "sem pensar muito na razoabilidade e sustentabilidade delas".


Ao mesmo tempo em que se criou na sociedade brasileira a ideia de que o país estavam em vias de se tornar país rico, diz Oreiro, o índice de complexidade da economia caiu. Uma das causas disso, argumenta, foi a apreciação da taxa de câmbio a partir de 2003 e a valorização dos termos de troca. Houve uma ilusão de riqueza, ao mesmo tempo que a infraestrutura econômica ficou mais primitiva. "Como a economia brasileira ficou mais primitiva nos últimos dez anos, temos que pensar em medidas para elevar o grau de sofisticação da economia no médio e longo prazo."


Junto a esse problema estrutural, diz Oreiro, temos uma questão conjuntural. Para ele, temos hoje a "tempestade perfeita". Primeiro, diz, com o escândalo na Petrobras, que responde por 10% dos investimentos no Brasil. Segundo, pelo choque de oferta, muito grande, com elevação preço da energia elétrica e combustíveis, com pressão sobre a inflação, que resulta em queda de renda real e de consumo.


"Some-se a isso a crise política. Enquanto não resolvemos minimamente a crise política, dando um norte, acho que a crise dura muito tempo, embora não existam crises eternas." A solução da crise política, diz ele, pode ser mantendo a presidente Dilma Rousseff, mas é preciso que "ela exerça a função de líder dizendo para onde temos que ir".


Para Maílson da Nobrega, ex-ministro da Fazenda, mesmo com a falta de popularidade e a retração econômica, a presidente Dilma Rousseff deverá terminar seu mandato. "Está faltando um líder, que pode surgir das eleições de 2018. O cenário mais provável é uma eleição com vitória de candidato do PSDB." Para Nobrega, esse cenário trará vantagens como melhora na qualidade da gestão, maior capacidade do governo de atrair talentos e restabelecimento da confiança da indústria, que deve chegar a 2019 com capacidade ociosa de 30%, mas, ao promover essa ocupação, irá ter ganho de produtividade.


Durante o evento, o jornalista Roberto Müller Filho foi homenageado pela sua grande contribuição ao jornalismo econômico. Natural de Ribeirão Preto, Müller iniciou sua carreira na "Folha de S. Paulo". Em 1974, assumiu o cargo de editor-chefe da "Gazeta Mercantil". Em 2004, ele lançou a revista "Razão Contábil", voltada para o mercado de capitais e desde 2005 é editor da versão brasileira da "Harvard Business Review".



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