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Imprensa
Mercado não descarta alta de juros apesar de PIB

A queda maior que a esperada do PIB não deve compensar o aumento da inflação e mantém aberta a possibilidade de o Banco Central subir a taxa de juros no ano que vem. Essa é a opinião de economistas ouvidos pelo Valor, que aguardam a divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), prevista para quinta-feira, esperando uma visão mais clara sobre a estratégia de do Banco Central para 2016.

O recuo do PIB no terceiro trimestre levou a uma correção no mercado futuro de juros ontem, após a alta verificada nos últimos dias. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2017 caiu de 15,8% para 15,74%, enquanto o DI para janeiro de 2021 recuou de 15,95% para 15,8%. O PIB do terceiro trimestre
caiu 1,7% em relação ao segundo trimestre, uma retração acima da média das projeções dos analistas apurada pelo Valor Data, que era de 1,3% no período.


Para o economista­-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks, o resultado fraco do terceiro trimestre e a revisão para baixo do PIB dos trimestres anteriores deve levar a uma piora das projeções para a atividade para ano que vem, mas não será suficiente para compensar o aumento das expectativas de inflação. "Apesar do PIB mais fraco, a
desancoragem das expectativas pode levar o BC subir os juros ano que vem", diz.


Weeks afirma que a ata do Copom deve trazer um cenário mais claro sobre a visão do BCe a opinião divergente entre os diretores. Na última reunião, dois diretores votaram a favor de uma alta de 0,5 ponto percentual da taxa Selic, que foi mantida em 14,25%. "Se ficar claro que a divergência foi apenas por uma questão de 'timing', aumenta as chances do BC subir os juros em janeiro", diz.


O estrategista ­chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno, chama atenção para um conhecido problema da economia brasileira, a indexação, que, segundo ele, tem limitado o repasse da deterioração econômica aos preços. "O PIB caiu a uma taxa anualizada de 7% [no terceiro trimestre], mas a inflação continua acima de 10%
[em doze meses]. E com uma inflação nesse patamar não dá para se descartar mais aperto monetário", diz.


Rostagno reforça o coro dos economistas que veem a ausência de perspectiva de ajuste das contas públicas como principal entrave para o BC hoje na gestão da política monetária. Para Rostagno, o BC precisa ser "bastante transparente" na ata, deixando claro que se não houver melhora "substancial" na perspectiva para o ajuste fiscal a instituição vai ser obrigada a agir elevando os juros. "Os impactos do imbróglio fiscal sobre as expectativas de inflação precisam estar muito claros na ata", diz. O estrategista do Mizuho ainda não mudou sua projeção e espera que a taxa Selic fique estável em 14,25% até o fim do próximo ano, mas admite que as chances de um aumento em 2016passaram a ser consideradas, devendo esperar a ata para reavaliar o cenário.


Para a economista­chefe da Arx Investimentos, Solange Srour, o problema da inflação é a falta de uma âncora fiscal e de credibilidade, depois de o IPCA ter ficado acima da meta nos últimos anos.


A economista destaca que o BC deve deixar claro na ata qual o horizonte em que vislumbra a convergência da inflação para a meta, se será no meio de 2017 ou apenas ao fim desse período. Além disso, é esperado que a autoridade destaque qual o seu objetivo para a inflação em 2016, se buscará evitar que o IPCA ultrapasse o teto da
meta, de 6,5%, no ano que vem, algo que foi tratado apenas no último discurso do diretor de política econômica, Altamir Lopes, mas não consta em nenhum documento do BC. "Acho que se o BC formalizar isso, facilitaria a ancoragem das expectativas de inflação para 2017."


Para Solange, isso seria um sinal "hawkish" (inclinado ao aperto monetário) que reforçaria a aposta na alta de juros, conforme a sinalização no comunicado divulgado ao fim da reunião do Copom na semana passada. A questão fiscal e a probabilidade de novas altas nos preços administrados no ano que vem são outros elementos que o BC pode usar como argumentos na ata para sinalizar aumento de juros, afirma a diretora da área de macroeconomia e política da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro. "Apesar de o motivo por trás disso ser fiscal e o BC estar de certa forma sobrecarregado, não dá para [o BC] apenas assistir à alta dos preços", diz.


Já o economista­-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, afirma que o hiato do produto (distância entre o PIB potencial e o PIB efetivo) está em terreno desinflacionário, o que aponta inflação de preços livres mais baixa nos próximos trimestres. E esse cenário permite a manutenção da Selic em 14,25% nas próximas reuniões do Copom.


"Não acreditamos que o movimento de desancoragem [da inflação] para 2017 tenha vida longa, dada a forte retração da demanda doméstica", explica o economista em relatório.


Para Weeks, o avanço das investigações da Operação Lava­-Jato podem levar a uma piora da percepção de risco, com impacto no câmbio e no ajuste fiscal, que ficaria comprometido, e seria mais uma pressão para o BC subir a taxa de juros.


Ontem, o dólar caiu 0,73%, fechando a R$ 3,8569, depois de dois pregões consecutivos de alta, acompanhando o movimento no exterior. Dados mais fracos da economia americana trouxeram dúvidas sobre a possibilidade de o banco central americano subir os juros neste mês, dando suporte à recuperação das moedas emergentes.

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