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Imprensa
2015 ainda não acabou

No jargão esportivo, o jogo só acaba quando termina. Em um ano tão turbulento quanto 2015, o mesmo pode-se dizer para os investidores do mercado financeiro. Apesar de ser um único mês, dezembro ainda deve reservar fortes emoções. O fechamento agitado de novembro, após uma breve calmaria em outubro, já deu uma sinalização clara de que os ânimos permanecem à flor da pele.


No Brasil, não bastassem as turbulências políticas, a surpreendente falta de unanimidade na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central movimentou as expectativas em relação ao futuro da taxa básica de juros. Apesar da confirmação da manutenção da Selic no patamar de 14,25% ao ano, dois diretores votaram pelo aumento dos juros, para 14,75%. As atenções, portanto, estão agora voltadas para a ata, a ser divulgada na quinta-feira.


E as notícias do exterior também estão no radar. O tão aguardado início do aperto monetário pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) tende a acontecer em dezembro e, ainda que o mercado já tenha incorporado grande parte dos efeitos do aumento de juros nos preços, é esperado um estresse adicional.


A última semana foi de maior aversão a risco, em meio à reunião do Copom e aos novos desdobramentos da Operação Lava-Jato, que levaram à prisão do senador Delcídio do Amaral (PTMS) e do banqueiro André Esteves, do BTG Pactual. Os acontecimentos conduziram a uma recomposição dos prêmios na curva futura de juros nos últimos dias, com papéis atrelados à inflação defendendo juros reais acima de 7% e títulos prefixados com retornos próximos de 16% ao ano.


Já na renda variável, o Ibovespa, que vinha se recuperando, também inverteu o rumo no último dia do mês, passando a uma queda de 1,63% em novembro, para 45.120 pontos. A baixa acumulada em 2015 foi ampliada para 9,77%. O mesmo aconteceu com o dólar, que passou a subir 0,63% no mês, para R$ 3,89, e acumula valorização de 46,08% no ano.


O Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), referencial das aplicações conservadoras, teve variação de 1,06% em novembro, sexto mês seguido acima de 1%. No ano, a variação chega a 11,94%.


A virada de ano pode prometer novos ares, mas o recado de gestores está mantido: seja conservador. Com um cenário ainda mais imprevisível principalmente na cena local, os juros básicos em níveis tão altos e com a perspectiva de novas elevações à frente, o investidor deve procurar ficar cada vez menos exposto ao risco. "Você tem taxas de juros nominais e reais muito elevadas. A taxa paga pelos títulos do governo é alta o suficiente, não precisa inventar muita coisa", diz Michael Gagliardi, sócio da gestora de patrimônio G5.


Se 2015 tem sido, em suas palavras, um ano de proteção de capital, para aproveitar oportunidades pontuais, a tendência é de continuação dessa tese em 2016. "Seria muito pouco prudente assumir agora qualquer posição direcional ou de risco material. Vale a pena ter um pouco mais de clareza do cenário, estou preocupado em não perder dinheiro", frisa.


A intensificação de más notícias nos âmbitos político e financeiro alimentou um clima de insegurança, afirma o sócio da gestora, e é difícil quantificar o quão negativo elas podem ser para os mercados.


Gagliardi conta que a gestora tem ficado ainda mais criteriosa e restritiva com crédito e segue sem disposição para correr riscos em renda variável e até mesmo em fundos multimercados. A preferência recai naturalmente sobre a renda fixa e o sócio da G5 alerta que, embora os prêmios pagos por papéis prefixados possam estar atraentes, eles poderão aumentar mais.


No Tesouro Direto, programa de venda de títulos públicos via internet voltado a pessoas físicas, o Tesouro Prefixado 2018 (LTN) pagava prêmio de 16,13% ontem, ante 15,73% no fechamento de outubro. "Quem comprar prefixado nos níveis atuais vai ganhar dinheiro no longo prazo, mas por que fazer uma posição hoje?", indaga Gagliardi.


Fausto Silva Filho, da XP Gestão, tem visão semelhante. "A volatilidade tende a aparecer e vai haver mais oportunidades para você prefixar mais à frente. O estresse vai crescer", avalia.


Para o gestor dos fundos de renda fixa da XP, a visibilidade segue muito baixa e o ambiente econômico tem dado sinais de piora, sem luz no fim do túnel.


"Se por um lado estamos vendo um ajuste nas contas externas mais rápido que o esperado, de outro, não conseguimos ainda enxergar o fim da deterioração dos índices de confiança, do ciclo de atividade econômica e, sobretudo, da inflação. Os três aspectos são muito importantes para a recuperação da atividade à frente", afirma. Nesse contexto, aliado a uma crise política mais ampla, o ambiente de paralisia do país tende a continuar, enfatiza.


A perspectiva de um segundo rebaixamento do Brasil por uma agência de classificação de rating joga pressão na parte mais longa da curva de juros, ressalta o gestor da XP, o que pode gerar perdas mais à frente, já que um aumento dos prêmios equivale a uma redução dos preços.


Por conta dessas incertezas, Silva Filho defende alocações pontuais conservadoras. "O cenário está muito difícil para se ter uma posição estrutural. As posições pontuais foram o lema deste ano e 2016 pode ser igual ou pior", comenta.


Aplicações vinculadas ao CDI e título públicos indexados à inflação com vencimento em até cinco anos são tidos como as melhores opções de investimento em 2015 pela XP, que acredita numa renovação dessa trajetória em 2016. O índice IMAB5, que mede o desempenho das NTNBs com prazos de resgate de até cinco anos, acumulou valorização de 13,07% no ano até 27 de novembro.


A preferência da Mapfre Investimentos em novembro recaiu sobre papéis com vencimentos ainda mais curtos, diante de uma trajetória indefinida da Selic. "Estivemos comprados em taxa de juros apostando que o cenário inflacionário ainda é muito desafiador e que a situação fiscal ainda está demonstrando tendência de deterioração íntegra e gradual", afirma o vice-presidente, Elíseo Viciana.


A opção de ficar pós-fixado, seja com aplicações atreladas à Selic ou à inflação, deve continuar em 2016, porém com papéis de vencimentos próximos, até 2017, para tentar minimizar o impacto de um novo ciclo de alta de juros.


À medida que essa perspectiva sobre a Selic fique mais clara, a tendência, diz Viciana, é que a curva de juros fique mais empinada, ou seja, que os prêmios dos papéis com vencimentos mais longos subam mais que os dos curtos. É preciso monitorar esse movimento, que poderá levar a Mapfre a migrar parte das aplicações para prazos mais dilatados.


Mesmo que o ciclo de alta de juros seja reiniciado, Nicolas Saad, gestor de renda fixa da Western Asset, avalia que a desaceleração econômica será forte o suficiente para conter o movimento. "Não só porque a atividade é um instrumento importante de política monetária, mas porque deve haver um arrefecimento da inflação", afirma.


Com uma visão destoante de outras gestoras, a Western espera que o aumento da Selic poderá ser menor que o projetado pela curva futura de juros, o que abre espaço para posições prefixadas na ponta mais curta.


Preocupado com a inflação implícita embutida nas NTNBs, num patamar muito elevado em sua visão, Saad diz ter maior cautela com esses papéis no momento, embora veja valor no longo prazo para os títulos com vencimentos maiores, que vão exigir calma do investidor para enfrentar a volatilidade.


Aplicações vinculadas ao CDI também são atrativas neste momento pelo baixo risco e pela perspectiva de maior rendimento com a alta de juros esperada, afirma o gestor.



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