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Imprensa
Inadimplência cresce entre emergentes


O caso da empresa chinesa de pesca que não conseguiu honrar o pagamento a seus credores neste mês pode ser uma gota no oceano de inadimplência de dívidas corporativas de mercados emergentes. Essa ameaça se deve à piora das condições econômicas para essas empresas, que vêm há anos aumentando suas dívidas.


A inadimplência já está crescendo à medida que as empresas enfrentam dificuldades para gerar caixa suficiente para pagar dívidas e os juros dos financiamentos. A valorização do dólar está agravando os problemas de empresas que têm dívidas na moeda americana.


O nível de inadimplência das empresas em países emergentes atingiu neste ano seu nível mais alto desde 2009 e está atualmente 40% acima do montante registrado em 2014, segundo a firma de classificação de risco Standard & Poor's.


Pela primeira vez em anos, as empresas de mercados emergentes estão deixando de pagar suas obrigações com mais frequência que seus pares nos Estados Unidos. A taxa de inadimplência de títulos de dívida com alto rendimento emitidos por empresas de mercados emergentes ao longo dos últimos 12 meses alcançou 3,8%, comparado com 2,5% no caso de empresas americanas, segundo o Barclays. Há quatro anos, essa taxa de inadimplência em mercados emergentes foi de 0,7%, bem abaixo dos 2,1% nos EUA.


A taxa de inadimplência das empresas latino-americanas com grau especulativo subiu 4,2% nos 12 meses encerrados em junho, ante 3,1% nos 12 meses anteriores, de acordo com a agência de classificação de risco Moody's.


A firma prevê que a taxa de inadimplência na região oscile entre 1,9% e 4,2% ao fim do primeiro semestre de 2016, ante uma taxa global entre 2,3% e 2,8%. "A tendência mais alta para a América Latina reflete uma recessão prolongada no Brasil, além de uma desaceleração no crescimento na maior parte da região", disse num comunicado Gersan Zurita, vice-presidente sênior da Moody's.


A tensão entre as empresas e as instituições que emprestaram dinheiro para elas também está crescendo.


Na semana passada, o HSBC Holdings PLC apresentou um pedido à Justiça de Hong Kong para liquidar a China Fishery Group e a China Fisheries International, segundo um porta-voz do banco. O tribunal indicou liquidantes provisórios.


A China Fishery, que atua em mercados emergentes como Peru, Rússia e África e tem contado com financiamento da firma de private equity americana Carlyle Group desde 2010, não honrou, neste mês, o pagamento de uma parcela de US$ 31 milhões de um financiamento no valor total de US$ 640 milhões, de acordo com Standard & Poor's.


A empresa também está sendo investigada conjuntamente pela autoridade monetária e a polícia de Cingapura, onde suas ações são negociadas, por "possíveis contravenções" da Lei de Mercado de Capitais do país, disse um porta-voz da autoridade monetária.


Um porta-voz da empresa não quis comentar. Muitas das empresas em dificuldade têm sede na Ásia, como a China Fishery.


Embora a dívida corporativa em mercados emergentes tenha quintuplicado globalmente nos últimos dez anos, totalizando US$ 23,7 trilhões, segundo o Instituto de Finanças Internacionais, grande parte desse aumento se deve aos emergentes da Ásia, onde a proporção das dívidas de empresas não financeiras em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) subiu de 100% para 125% nos últimos cinco anos.


Isso se deu num momento em que os investidores globais procuravam formas de obter retornos mais altos em um período de juros baixos em mercados desenvolvidos. Enquanto isso, companhias em mercados emergentes estavam ansiosas para obter recursos para crescer, já que a economia de seus países estava tendo um desempenho superior à de muitos países desenvolvidos.


Agora, as torneiras estão fechando. O menor apetite para concessão de crédito e a crescente dificuldade para levantar capital, apesar das baixas taxas de juros, derrubaram as emissões de títulos de dívida em mercados emergentes em quase 30% em relação há um ano.


Muitos acreditam que a inadimplência entre as empresas que emitiram dívida vai subir. O crescimento na China está desacelerando e economias que dependiam muito do país asiático estão enfrentando dificuldades, especialmente com a desvalorização das suas moedas. O custo dos empréstimos também está subindo para muitas, à medida que os investidores migram para os títulos americanos, na expectativa de que o Fed eleve as taxas de juros em breve.


As empresas em países emergentes têm quase US$ 600 bilhões em títulos de dívida que vencem no próximo ano, de acordo com o Institute of International Finance (IIF, em inglês). Desse montante, US$ 85 bilhões foram emitidos na moeda americana. Quase US$ 300 bilhões das dívidas corporativas não-financeiras precisão ser refinanciadas em 2016.


Algumas empresas já estão reestruturando os empréstimos e títulos que possuem.


Na semana passada, a Winsway Enterprises Holdings, uma mineradora de carvão de coque, iniciou um processo de reestruturação de US$ 309 milhões em títulos de dívida, depois de os ativos terem passado meses sendo negociados a níveis muito baixos. A pressão sobre a empresa se intensificou neste ano com a queda dos preços do carvão, e ela acabou não deixando de pagar duas parcelas de juros.


Pelo plano de reestruturação, os investidores vão receber 35% do que a empresa originalmente lhes deve, informou a Moody's.


Muitas dessas empresas em mercados emergentes "nunca foram robustas o suficiente para carregar esse tipo de dívida nos seus balanços", diz Neil Macdonald, que chefia a área de reestruturação de dívidas na Ásia da Kirkland & Ellis LLP.


Bancos estrangeiros dizem que estão cada vez mais cautelosos com os "covenants" dos títulos, ou os compromissos assumidos pelas empresas emissoras de dívidas, e as proteções para credores de outros países.


Algumas empresas têm pago o preço pelas ambições de crescer no exterior.


Confiantes na recuperação do setor automobilístico no mercado doméstico, a maior siderúrgica da Tailândia, a Sahavariya Steel Industries, comprou a britânica Teesside Cast Products da Tata Steel U.K. em 2011, assumindo quase US$ 1 bilhão em dívidas. Em setembro, ela desativou sua subsidiária no Reino Unido em meio a negociações para reestruturar US$ 1,4 bilhão em dívidas. (Colaborou Ivan Rothkegel)



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