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Imprensa
Consensos e diferenças dentro do Copom


A inflação corrente chegou aos dois dígitos. As expectativas de mercado para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) já romperam o teto da meta de inflação de 2016 e se descolaram do centro da meta de 2017. Essas são as preocupações presentes na reunião de anteontem do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.


O placar foi dividido, com seis votos pela manutenção dos juros em 14,25% ao ano e dois pela alta de 0,5 ponto percentual, o que revela uma certa diferença de opiniões sobre o momento de agir. Mas todos estão juntos na determinação para tomar as medidas necessárias para colocar a inflação na meta. Nisso, não há divisão.


O Copom está atento aos níveis de juros reais. Quando encerrou a segunda fase desse ciclo de aperto monetário, em 29 de julho, seu comunicado dizia que "a manutenção desse patamar da taxa básica de juros, por período suficientemente prolongado, é necessária para a convergência da inflação para a meta no final de 2016". De lá para cá, o juro nominal foi mantido em 14,25%, mas o juro real sofreu uma queda.


O Copom tem controle direto sobre a taxa de juros de curtíssimo prazo, mas o que tem influência sobre a inflação são as taxas mais longas. No fim, o que vale é a taxa real de juros de mercado.


No período, a expectativa de inflação do mercado para os 12 meses seguintes subiu de 5,7% para 7,13%, na última sexta-feira.


Os juros futuros também subiram, de 14,19% ao ano para 15,17% ao ano, em parte refletindo um maior prêmio inflacionário. Dessa forma, os juros reais tiveram uma queda, de 8% para 7,4%. Assim, apenas para manter as condições monetárias estáveis, seria preciso hoje juros nominais mais altos.


Não é a primeira vez que o Copom vota dividido na gestão Alexandre Tombini, mas a tradição tem sido encontrar um consenso logo em seguida.


Em abril de 2013, por exemplo, dois diretores votaram contra um início de aperto monetário. Mas, logo em seguida, um deles o então diretor de Assuntos Internacionais Luiz Awazu Pereira declarou que a questão não era "se o Copom deveria agir, mas quando agir".


O argumento de quem achava, na reunião do Copom de anteontem, que ainda não era o momento de subir os juros é conhecido: seria necessário esperar mais algumas semanas para ter uma definição mais clara do quadro fiscal e do quanto, das medidas adotadas para ajustas as contas públicas, vai bater na inflação. Uma alta de R$ 0,50 na Cide sobre combustíveis, por exemplo, teria um impacto de 0,8 ponto percentual na inflação, segundo cálculos de analistas privados.


O compromisso era, uma vez desanuviadas incertezas que dificultam as projeções de inflação do BC, agir com a mesma determinação que demonstrou no ciclo de alta de juros do começo deste ano.


O Copom já vinha fazendo uma escalada na sua comunicação desde sua reunião de outubro. Primeiro, recalibrou a sua estratégia, definindo dois objetivos para a política monetária: não permitir o estouro do teto da meta em 2016 e cumprir o centro da meta em 2017. Até então, o compromisso era subir os juros se a inflação projetada para 2016 se desviasse significativamente da meta.


Uma das preocupações foi mostrar que, se não subiu os juros para perseguir a meta em 2016, isso não tinha nada a ver uma suposta dominância fiscal e ou uma preferência pela atividade econômica em detrimento da inflação.


A ata do Copom de outubro avisou que a política monetária poderia ser acionada "independentemente do contorno das demais políticas", ou seja, da fiscal. Dias depois, o diretor de Política Econômica do BC, Altamir Lopes, disse que, se for necessário, o Copom adotaria medidas, "independentemente do nível de atividade que se apresente".


Entre os dois membros do Copom que votaram em favor de subir já os juros em 0,5 ponto percentual, a preocupação central foi o desencoramento das expectativas de inflação. Esse é um assunto que tira o sono de todos no comitê, mas o entendimento era que uma ação mais rápida poderia ser mais eficaz. Num discurso recente em Nova York, um dos dissidentes o diretor de Assuntos Internacionais, Tony Volpon pontuou que o adiamento do cumprimento da meta tinha causado alguns danos na credibilidade do BC, o que se reflete nas expectativas de mercado para a inflação.


São quase dois meses até a próxima reunião do Copom, marcada para 20 de janeiro. Um período suficiente para conciliar as visões dentro do colegiado sobre como vários fatores incluindo a alta de preços administrados vão afetar as projeções oficiais de inflação para 2016 e 2017. Uma síntese deverá ser apresentada no Relatório de Inflação.


Economistas estão intrigados porque a inflação de serviços ainda não caiu, a despeito da forte alta do desemprego. Muitos inclusive no Banco Central acham que o ajuste no mercado de trabalho tende a se aprofundar e fatalmente vai afetar decisões de formadores de preços e de salários.


Especialistas tem ligado a alta inflação de serviço à ascensão da nova classe média, que emergiu com ajuda de programas sociais e embalada pelo super ciclo das commodities. Hoje, sem espaço fiscal e com a queda de preços de produtos básicos, a nova classe média deixará de pressionar preços de serviços.


Mas pode ser que a inflação se mostre resistente. Um trabalho de discussão de um economista do BC, Andre de Queiroz Brunelli, vai a fundo nos microdados sobre a mobilidade social e mostra que, na verdade, quem mais pressionou a inflação de serviços foi quem ascendeu ao topo da pirâmide social ("Demand for Services Rendered to Families in Brazil in the 2000's: An Empirical Analysis of Consumer Patterns and Social Expansion").


Isso coloca uma questão: e se agora, mesmo numa recessão, aumentar a desigualdade, com ganho de renda dos mais ricos? O reequilíbrio entre setores industriais e de serviços, provocado pela alta do dólar, pode levar a isso. Teríamos recessão, desigualdade e inflação ainda alta. O pior dos mundos.



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