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Imprensa
Estão superestimando o efeito Meirelles


O mercado financeiro tem respaldado com indisfarçáveis aumentos no Ibovespa e quedas no câmbio a eventual chegada do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao Ministério da Fazenda. Mas o que pode estar acontecendo aí é um caso clássico de sobre-preço.


Meirelles não representa uma política econômica diferente de Joaquim Levy.


Portanto, deduz-se que o caminho atual será muito parecido com o que faria o ex-chefe do BC e que essa não é a explicação principal para o ajuste de preços. A euforia com a troca de comando parece resultado da visão de que Meirelles teria “porteira fechada”, autonomia para nomear um novo BC e um novo ministro do Planejamento. Formaria uma equipe econômica mais coesa e capaz de impor à presidente Dilma Rousseff uma coerência na política econômica que não existe hoje.


De fato, o governo ganharia com a maior capacidade de articulação de Meirelles.


Mas não dá para esquecer os muitos elogios que recebeu o ministro Levy quando começou a negociar a pauta econômica com o Congresso. Naquele tempo, que nem é tão distante, ele era o articulador favorito do governo e dos parlamentares. Não é mais, como se pode ver pelas declarações de hoje no Valor.


Um outro ganho que o ex-presidente do BC pode trazer é a vasta experiência acumulada no governo Lula dos embates com o PT e o apoio velado que teria do PSDB e explícito do PMDB, Não custa lembrar, porém, que o PT chefia o tiro ao alvo a Levy, mas o PSDB é guiado pelo vislumbre de voltar ao poder em 2018 e o PMDB acha que Meirelles é mesmo um ótimo ministro da Fazenda, especialmente de um governo pemedebista.


Também é indiscutível a vantagem de uma equipe econômica coesa, onde todos remem para o mesmo lado e onde as propostas que chegam à presidente da República não trazem contradições insolúveis que exigem a arbitragem constante da chefe do Executivo. Mas até esse ganho precisa ser relativizado.


É ingenuidade política, ou um imenso desejo, achar que ministros poderosos, autônomos, impõem decisões a um presidente da República. Basta lembrar as inúmeras sessões de convencimento que o então poderoso e respeitado ministro Fernando Henrique Cardoso teve com o então presidente Itamar Franco. E naquela época, ao contrário de agora, havia um plano econômico de sucesso na praça.


Alguém imagina um encontro desse entre Dilma e Meirelles? A presidente terá que ser convencida por um ministro de quem desconfia e de quem não gosta, isso só para começo de conversa.


A chegada do ex-presidente do BC, por si só, não representará uma capitulação, uma quase renúncia.


É preciso que Dilma Rousseff queira a política que esperam de Meirelles, que esteja disposta a abrir mão de seu governo. E os sinais não indicam que tenhamos chegado a esse ponto. Pode até ser que o momento chegue, mas hoje, não é o que se desenha.


Olhando pelo curto retrovisor do segundo mandato, Dilma deu autonomia a Levy para fazer tudo aquilo com que ela concordava. Os preços relativos mudaram, a energia elétrica subiu, a gasolina também e o dinheiro novo ao BNDES secou. Mas foi Dilma quem decidiu que o primeiro corte de gastos do ano seria de R$ 69,9 bilhões e não os R$ 70 anunciados por Levy. Foi a presidente quem assinou embaixo do orçamento deficitário, mesmo avisada do risco de donwgrade. Foi a presidente quem autorizou, ontem mesmo, que o governo negociasse uma meta fiscal com abatimento de investimentos do PAC em 2016, mandando para o espaço qualquer tentativa de retomar a credibilidade fiscal.


É indiscutível que o ministro Levy chegou a um ponto de onde é difícil que se recupere. Assim como é indiscutível que a presidente terá que tomar uma decisão sobre como fortalecer sua equipe econômica. A única coisa que não está clara é que a saída encontrada por ela seja abdicar de seu mandato. Especialmente num momento em que a tese do impeachment parece perder força e ela vislumbra a chance de chegar a 2018.



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