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Imprensa
"O brasileiro está se defendendo da crise como um Indiana Jones", diz Neri


Em meio à grave crise econômica, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2014 trouxeram notícias surpreendentemente positivas. É o que afirma o pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Marcelo Neri. Para o economista, a Pnad mostra a resiliência do bem-estar da população, apesar do aumento do desemprego e do PIB estagnado no ano passado e em queda neste ano.


Neri aponta um descompasso, um "paradoxo", entre os números negativos da macroeconomia e os revelados pelo levantamento do IBGE. O pesquisador destaca que, apesar do aumento do desemprego de 6,5% para 6,9%, quase 620 mil pessoas , houve crescimento de 2,9% da população ocupada entre 2013 e 2014. O aumento corresponde a um contingente de 2,75 milhões de pessoas a mais no mercado de trabalho.


Além disso, a renda real dos ocupados teve elevação de 0,8%. Não é muito, diz, mas poderia ser bem pior, dado o crescimento de apenas 0,1% do PIB em 2014 pelo produto per capita, o resultado foi 0,7% negativo. "Isso mostra que o brasileiro está se defendendo da crise, meio como um Indiana Jones, em particular o mais pobre", afirma, numa comparação com o personagem do cinema, o arqueólogo especialista em escapar de armadilhas.


Neri afirma que os números da Pnad trazem sensação além do simples alívio, embora não haja motivo de comemoração, porque como a pesquisa retrata o ano passado " já estamos na frente do filme, vendo o trailer do próximo episódio".


Ainda que o horizonte não seja muito animador, o economista vê, com base na Pnad de 2014, uma manutenção do bem-estar, embora o aumento do desemprego seja uma tendência que "veio para ficar". O PIB per capita negativo em 2014, ressalta, já desenharia um quadro de retração social, com queda na massa de rendimentos e aumento da pobreza e da desigualdade, o que não ocorreu. "O bem-estar não sofreu revés em 2014 e, diria mais, nem vai sofrer em 2015, pelo que indica a Pnad Contínua."


A queda na desigualdade de renda, expressa pelo índice de Gini, é apontada por Neri como outra boa notícia da Pnad 2014. O economista lembra que o Brasil, desde 2001, era um ponto fora da curva, já que a desigualdade caía no país, enquanto na maior parte do mundo aumentava. Só que, neste período, a maioria dos vizinhos da América Latina também reduzia a desigualdade, o que não acontece mais.


"Não é uma queda espetacular, mas na América Latina, ela parou de cair", diz. O índice de Gini passou de 0,495 para 0,490. Para Neri, o "bolo de renda cresceu e com mais fermento na base", ou seja, os mais pobres subiram mais do que os mais ricos. "O revés ocorre no topo da pirâmide", diz.


Pela Pnad, enquanto a média do grupo dos 10% de menor rendimento mensal subiu 4,1% de R$ 246 para os R$ 256 , a média para os 10% de rendimentos mais elevados caiu 0,4% de R$ 7.185 para R$ 7.154, entre 2013 e 2014. Na média geral, passou de R$ 1.760 para R$ 1.774. "Houve um crescimento na massa de renda circulando na economia, apesar do aumento do desemprego, que já começava em 2014", diz.


O desemprego na Pnad 2014, pontua Neri, é "puxado totalmente" pelos homens entre 15 e 24 anos, uma situação diferente da que vem ocorrendo neste ano. Pela Pesquisa Mensal de Emprego, também do IBGE, a taxa piorou muito a partir de dezembro de 2014, lembra. "Em seis meses, andou-se para trás seis anos", afirma.


O pesquisador afirma que há em curso uma mudança na composição do mercado de trabalho, com a redução da proporção de empregados (era de 62,3% e passou para 61,3% em 2014) e aumento na de trabalhadores por conta própria que subiu de 20,7% para 21,4%, algo em torno de 600 mil pessoas, estima. Isso, no entanto, ainda não significa precarização do trabalho, já que a proporção dos que contribuíram para a Previdência subiu de 61,5% para 61,7%.


Defensor do conceito de "uma nova classe média" que ascendeu nos últimos anos, Neri fará uma análise dos microdados da Pnad para saber se houve um encolhimento da classe C. Por seu critério, em janeiro de 2014 a classe C, média, era formada por quem tinha renda familiar de R$ 2.005 a R$ 8.640.


A classe AB está acima desse intervalo, e a DE, abaixo.


Pelo corte de gênero, a Pnad apontou que as mulheres receberam, em média, 74,5% do rendimento dos homens, mais que os 73,5% registrados em 2013.



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