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Imprensa
BC admite que juro baixo causou inflação

O Banco Central recalibrou o seu supermodelo de projeções econômicas, o Samba, e descobriu que ele próprio o BC foi responsável por uma boa parte das pressões inflacionárias de 2013 para cá, depois de colocar os juros básicos no menor nível da história, em 7,25% ao ano.

O modelo também revela que, ao contrário do que a presidente Dilma Rousseff vem repetindo, choques externos não são a principal causa da desaceleração econômica. A queda da produtividade é o fator mais representativo.

Segundo boxe do Relatório de Inflação do Banco Central de setembro, cerca de metade das pressões inflacionárias negativas ocorridas em 2013 decorrem do agressivo ciclo de corte de juro entre 2011 e 2012.

Em 2013, os fortes reajustes salariais, os juros baixos, a alta do dólar e o aumento de margem de lucro das empresas puxaram a inflação para cima em cerca de 4,3 pontos percentuais. Desse total, os juros baixos responderam por cerca de 2,2 pontos.

Naquele ano, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 5,91%, quase igual aos 5,84% de 2012. A inflação só não subiu mais graças à ajuda, sobretudo, do represamento de reajustes de tarifas, como energia elétrica e gasolina, que teve um efeito favorável de 2,2 pontos.

Os juros baixos provocaram pressão inflacionária de cerca de 1,2 ponto percentual em 2014. Isso equivale a cerca de um terço dos fatores que pressionaram os preços, incluindo alta de salários, câmbio e margem de lucros. Nesse ano, a inflação subiu para 6,41%. Só não foi maior porque a contenção de reajustes de tarifas teve um efeito baixista de cerca 1,4 ponto percentual no IPCA.

Os juros de 7,25% ao ano reverberaram até o começo deste ano, pressionando a inflação em cerca de 0,5 ponto nos 12 meses até junho. Já as tarifas, que tinham segurado a inflação, tornaram-se o principal fator de pressão, com impacto de 1,5 ponto percentual.

Os dados foram apresentados em dois gráficos no boxe "Revisão do Modelo Estrutural de Médio Porte Samba", publicado no Relatório de Inflação. O Samba, o mais sofisticado dos modelos do BC, usa técnicas da chamada "economia artificial" para replicar em laboratório as condições reais da economia brasileira.

Periodicamente, o BC recalibra os seus modelos para checar, por exemplo, como apertos monetários e expansões fiscais afetam a inflação. Os economistas do BC aplicaram retroativamente o modelo para decompor as causas da alta da inflação e da debilidade do Produto Interno Bruto (PIB).

Ironicamente, o Samba foi usado como justificativa em 2011 para baixas de juros, quando o Copom começava o ciclo agressivo de distensão que levou a taxa básica a 7,25% ao ano. Naquela época, o modelo dizia que a crise na Europa e nos Estados Unidos teria forte poder desinflacionário no Brasil.

Em explicações ao Valor, fontes do BC ponderam que "o modelo não capta em sua estrutura mudanças na economia que influenciam esses choques mostrados na decomposição". Além disso, na recalibragem do modelo, o efeito da ação da política monetária está mais defasado, ou seja, leva mais tempo para se fazer sentir.

Assim, uma política de juros que era adequada num período poderia deixar de ser devido a mudanças na economia e uma defasagem maior do que estimada quando ela foi decidida.

No caso do PIB, de fato choques externos pesaram no menor dinamismo da economia, mas não tanto quanto sustentado pelo governo. Seu efeito foi tornar o PIB de 2013 cerca de 0,6 ponto percentual menor, num ano que a economia cresceu 2,74%.

Em 2014, quando o crescimento foi de apenas 0,15% e a economia entrou na recessão atual, os choques externos subtraíram 0,5 ponto percentual do PIB.

No primeiro semestre deste ano, a economia afundava na recessão, mas os choques externos não tiveram influência relevante no PIB.

O Samba mostra que outros choques pesaram bem mais na evolução desfavorável da economia. Em 2013, por exemplo, o modelo calculou que os reajustes salariais acima da produtividade comeram 1,2 ponto percentual do PIB. A partir de 2014, o vilão é a queda na produtividade da economia, com um efeito de 2,2 pontos percentuais. Nos 12 meses até o primeiro semestre, a queda da produtividade subtraiu 4 pontos do PIB. A queda do consumo e do investimento, em boa medida afetados pela baixa dos índices de confiança, também explica a queda.

Sobre as causas da desaceleração do PIB, fontes do BC disseram que "não há dúvidas sobre o papel dos fatores externos na desaceleração da economia". O descompasso entre o crescimento da economia e o nível de emprego dos fatores se traduz na baixa produtividade mostrada na decomposição dos fatores que influenciaram o PIB.



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