"Nós vamos fazer de tudo para que ele
volte", avisa. Nesta entrevista exclusiva ao Valor, Carvalho afirma que o
ex-presidente é o alvo da crise e reconhece: "Sem Lula,
para nós seria muito difícil [ganhar a eleição em 2018]". O ex-ministro
diz que o PT deve fazer um "mea culpa" e reconhecer erros, mas sem
"autoflagelo" ou esperar um perdão instantâneo da sociedade.
"Aqueles que não gostam da gente, não gostam e ponto, com autocrítica ou
sem."
Carvalho acredita que o PT tem tempo para se recuperar nos próximos três anos.
"Aqueles que acham que o PT morreu ou vai morrer, ou que Lula será
inviabilizado, têm que tomar muito cuidado", adverte. Sem citar o mensalão,
o ex-ministro observa que o PT já sobreviveu a "muitas crises" por
causa da força de sua militância.
"Convido aqueles que acham que Lula estará morto em 2018 a pensarem duas
vezes antes de falar".
O ex-ministro diz que Lula não abandona Dilma. O novo gabinete da presidente
tem as digitais de seu antecessor, com Jaques Wagner na Casa Civil e Ricardo
Berzoini na Secretaria de Governo. "O Lula vai fazer o que puder para ajudar
a viabilizar o governo da Dilma. Eu ouço dele, se for o caso ele morre abraçado
[a ela] ou ressurgem juntos".
Carvalho foi chefe de gabinete de Lula nos dois mandatos e desde fevereiro,
exerce a presidência do Conselho Nacional do Serviço Social da Indústria
(Sesi). Desde que deixou o governo Dilma, evita a imprensa, em postura
contrária à de quando era ministro da Secretaria Geral.
Nos últimos meses, adotou uma postura discreta à frente do Conselho Nacional do
Sesi, cargo que nos últimos 11 anos foi ocupado por outro nome ligado a Lula, o
ex-sindicalista e ex-deputado Jair Meneguelli.
Carvalho tem viajado para conhecer os presidentes das federações da indústria. Nesta
semana, foi a Manaus (AM) e Boa Vista (RR). Recentemente, interveio na crise
deflagrada pelo governo com a proposta, no contexto do ajuste fiscal, de
redução em 30% das alíquotas pagas pelas empresas ao Sistema S. Ele negocia com
a Casa Civil uma alternativa à proposta.
Eventualmente, nos fins de semana, Carvalho participa de atos políticos para
discutir saídas para a crise do PT e a reconstrução do partido. Na última sexta-feira,
discursou em ato da "Frente Brasil Popular", que reúne PT, PCdoB,
CUT, MST e UNE, em Cuiabá, no Mato Grosso.
A frente tem como bandeiras a "defesa da democracia", o combate ao
"Plano Levy" de ajuste fiscal e mudanças na política econômica.
Recentemente foi apontado como suposto elo entre Lula e a Odebrecht.
Em nota, repudiou "com veemência os vazamentos criminosos que só fazem
prejudicar a importante operação de combate à corrupção".
Para Carvalho, a tentativa de afastamento de Dilma é um subterfúgio da oposição
para fragilizar o governo, tendo Lula como alvo. "A oposição está com um
plano de sangrar o governo pra fragilizá-lo. O impeachment é um pretexto para
esse sangramento, eles sabem que não vai acontecer, mas é uma ofensiva dura
tentando paralisar o
governo e o objetivo fundamental é atingir o Lula" para que eles consigam
"ganhar outra eleição".
Sem citar explicitamente o mensalão ou a Operação Lava-Jato, que envolvem quadros
históricos do PT, Carvalho afirma que o partido deve reconhecer seus erros, mas
fugindo de dois estereótipos. "Que não seja para autoflagelo só, que isso
não leva a nada. E que não seja também na ilusão de que ao fazer isso nós vamos
ganhar
credibilidade".
Mas Carvalho afirma que alguns petistas se desviaram do caminho depois que o PT
chegou ao poder com Lula em 2003. Relata que as "pessoas foram mudando de
padrão de vida" e agora, alerta que é preciso "mudar a prática",
em alusão a companheiros de partido. "Não é expulsar esse ou aquele do
partido. Precisamos expulsar de dentro da gente, de dentro da cultura
partidária essa pratica nefasta que eu insisto em dizer que contaminou nossas relações
internas."
Para o ex-ministro, não seria o caso, por exemplo, de expulsar do PT o ex-ministro
da Casa Civil José Dirceu, presidente da sigla entre 1995 e 2003, condenado no
julgamento do mensalão e também investigado na Operação Lava-Jato. Ele avalia
que Dirceu e outros implicados já estão sofrendo punição adequada. "Seria
sadismo além da
conta."
"O que adianta expulsar o Zé do partido nessa hora em que ele está penalizado
com a vida sofrida que está levando? Quando tudo passar, a gente pode ter uma
conversa com ele e dizer: 'Olha, Zé, você errou nisso. Veja o que quer fazer'.
Se ele vier a se desfilar, tudo bem."
Em sintonia com a cúpula petista, Carvalho defende o fim do financiamento
empresarial a campanhas eleitorais, mas sustenta que o PT só deve adotar a
prática se houver uma lei nesse sentido que alcance todos os partidos. "Se
o fim do financiamento empresarial for para todos, como nós esperamos que seja,
claro que dá [para disputar
eleição] porque o PT sai com vantagem porque tem militância e capacidade de
arrecadar com essa militância que é generosa", diz.
Ele ressalva, contudo, que não dá para o PT concorrer com condições
diferenciadas. "Se for eles com financiamento e a gente sem nada, seria que
nem briga de moleque: você amarra um na árvore e manda o outro bater."
A prova de fogo para o PT, em caso de disputar a eleição municipal sem doações
empresariais, será a reeleição do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.
Carvalho afirma que, apesar da baixa popularidade do petista, o vê com capacidade
de se reeleger. "O Haddad está se recuperando aos poucos", aposta.
"Essa figura nova de um prefeito capaz de pensar uma cidade diferente
ainda vai dar frutos. Não acho que o Haddad seja carta fora do baralho, eu tenho
esperança", afirma.
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