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Imprensa
País terá recuperação lenta após rebaixamento, prevê analista


A economia de países que perdem o grau de investimento costuma retornar para o nível anterior ao rebaixamento dois anos após o downgrade, mas a retomada vai demorar mais no Brasil, tomando como base as projeções atuais do mercado. A conclusão é do economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, que analisou o impacto da retirada do selo de bom pagador em três variáveis macroeconômicas: Produto Interno Bruto (PIB), taxa de câmbio e inflação.

No estudo, Borges avaliou o comportamento desses indicadores num conjunto de 14 economias que tiveram a nota de crédito soberana revisada para "junk" por uma das principais agências de classificação. A Standard & Poor's rebaixou o rating do Brasil no início de setembro.

A principal constatação é que o efeito mais forte do downgrade no PIB, na cotação do dólar e na alta dos preços fica concentrado no ano em que o evento ocorre. Pelo padrão médio da atividade nos 14 países rebaixados, houve forte desaceleração já no ano anterior à perda do grau de investimento, em que o crescimento médio passa para cerca de 1,5%, ante 4% um ano antes. Trajetória semelhante foi observada no Brasil, onde a expansão do PIB em 2013, de 2,7%, se reduziu a 0,1% em 2014.

De acordo com o comportamento observado na média das economias, o PIB recuou pouco mais de 5% no ano do rebaixamento, mas a recuperação ocorre de forma relativamente rápida, com formato em "V": o crescimento um ano depois do downgrade já retorna à casa de 1% e, dois anos depois, para 3%. Em outra análise, ao transformar o PIB em número índice, considerando como base o ano imediatamente anterior ao rebaixamento, Borges observou que dois anos após o evento o PIB voltou ao patamar anterior à perda do rating.

O consenso de mercado para o Brasil, contudo, indica que a atividade só voltará ao campo positivo em 2017 e ainda assim em nível 1,5% abaixo do observado um ano antes do downgrade. Os cálculos foram feitos a partir das estimativas do boletim Focus, do BC, que contam com redução de 1% do PIB em 2016 e alta de 1,1% em 2017. Borges pondera, por um lado, que a retração de 2,7% prevista pelos analistas neste ano é mais fraca do que a queda registrada na média dos outros países que perderam o grau de investimento.

Mesmo reduzindo o grupo de análise aos países em que o tombo no ano do downgrade foi de 4% ou menos, porém, a retomada traçada no Brasil ainda é mais vagarosa: o PIB doméstico estará cerca de dois pontos aquém do nível inicial no prazo de dois anos após o evento, enquanto na mediana das sete economias avaliadas, o PIB superou esse nível em mais de 0,5 ponto.

"Se fosse aplicado o padrão do grupo das 14 economias ao Brasil, cresceríamos algo em torno de 0,5% a 1% em 2016 e de 2,5% a 3% em 2017", diz o economista. Para ele, duas hipóteses podem explicar o cenário mais pessimista à frente.

Em primeiro lugar, Borges cogita que a crise política está adiando o horizonte de recuperação. Além disso, ele não descarta que as previsões estejam contaminadas pelo recrudescimento da recessão no momento, e que a trajetória da atividade possa surpreender positivamente nos próximos dois anos, embora a LCA trabalhe com retração de 1% para o PIB em 2016. "Os analistas são péssimos em antecipar recessões severas. Um ano atrás se esperava alta do PIB em 2015. Esse viés também se aplica à recuperação pós-recessão, que costuma ser subestimada."

Em outro estudo, divulgado dois dias depois da decisão da S&P sobre o Brasil, a economista Julia Gottlieb, do Itaú Unibanco, observou que, em uma amostra de 11 países rebaixados, a perda do grau de investimento levou a ajuste mais rápido da política fiscal e das contas externas, mas afetou negativamente o crescimento. O prazo analisado foi um ano mais curto do que o usado pela LCA (até o ano seguinte ao downgrade). Na média de resultados desse países, o PIB recuou 0,9% no ano da perda do grau de investimento, e mais ainda no seguinte (1,7%).

Em relação à política fiscal, Julia mostrou que, considerando a média dos 11 países, os resultados das contas públicas melhoram: o déficit primário passa de 2,4% do PIB um ano antes do rebaixamento para 1,4% do PIB no ano seguinte. O mesmo movimento ocorre com o déficit em transações correntes, que caiu de 5,3% do PIB para 1,1% em igual período, devido à desvalorização cambial na esteira da percepção da alta de riscos.

O câmbio mais depreciado, no entanto, tem impacto inflacionário. Segundo a análise do Itaú, a inflação dos países rebaixados aumenta, em média, dois pontos percentuais no ano do rebaixamento, em relação ao período anterior. Na média do grupo, a alta do índice de preços ao consumidor passou de 4,8% para 6,6% entre um ano e outro. No ano seguinte ao rebaixamento, diminuiu para 4%.

Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, afirma que, como o mercado já "precificava" um país sem grau de investimento antes do rebaixamento pela S&P, o aumento do prêmio de risco antecipou os efeitos da revisão da agência sobre os indicadores macroeconômicos.

"Se pegarmos a média de países com rating 'BBB', a nota do Brasil pela S&P antes do rebaixamento, o prêmio de risco é de 200 pontos, e já estávamos operando próximos a 400 pontos", diz Alessandra, referindo-se ao Credit Default Swap (CDS).

Como a Tendências já antecipava a perda do grau de investimento do Brasil por pelo menos uma das agências, a consultoria não mudou as projeções após a decisão. Ela estima redução de 2,8% do PIB para este ano e queda de 1% em 2016.



     


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